O
historiador aos olhos do cidadão comum às vezes parece um memorizador fanático
de nomes, datas e acontecimentos. São os ossos do nosso ofício. E esta antevéspera
de Festa de Nossa Senhora Aparecida/Descobrimento da América/Dia das crianças é
um deles. Várias solenidades em uma única data deixam o desavisado meio tonto.
Mas
hoje eu queria relembrar outra data, comemorada no dia de hoje: a abertura
solene do vigésimo primeiro concílio geral da Igreja Católica, Vaticano II, ocorrido
no dia 11/10/1962 na basílica de São Pedro em Roma.
Em
outras postagens aqui no meu blog eu já falei sobre os erros interpretativos do
evento conciliar, retratado por uns e outros ou como o inferno na terra, ou
como o céu na terra. Na verdade o concílio não foi nem uma coisa, nem outra. Parafraseando
São Josemaría Escrivá (1902-1975): “Desde o concílio de Jerusalém (49) vivemos
em pós-concílio!”. Sábias palavras a nos lembrar que se hoje temos consciência das
falhas e limitações do Vaticano II, deve nos confortar saber que nenhum concilio
esgotou-se em si mesmo.
Um
documento que infelizmente tenho lido em doses homeopáticas é o Diário do Vaticano II escrito por Boaventura Kloppenburg, que eu já
comentei em uma postagem pelo Instagram (Cf.: https://www.instagram.com/p/CJJ7-57Jy6x/?utm_source=ig_web_copy_link). Pois semanas atrás eu consultava uma obra de
referência, o Dicionário
do Concílio Vaticano II, e no
verbete sobre Kloppenburg encontrei a seguinte informação a me animar a seguir
em frente no meu pequeno projeto de ler o Diário:
A posição privilegiada de consultor
e assessor de imprensa dos debates conciliares foi essencial para a compilação
do material e posterior publicação dos cinco volumes com suas crônicas do
Concílio Vaticano II. Esta obra é colocada por [Giuseppe] Caprille entre as melhores
coberturas do Concílio[1].
Por
outro lado, o mais conhecido historiador conservador do Vaticano II, Roberto de
Mattei, na sua obra Concílio
Vaticano II: uma história não contada,
não se utilizou desses Diários para compor sua narrativa do evento conciliar, e
do extremo oposto ideológico Pe. José Oscar Beozzo, apesar de reconhecer seu
valor, não utiliza extensivamente os Diários, preferindo se servir das crônicas
produzidas por cronistas mais liberais, ou como preferem dizer hoje, mais à
esquerda como Fesquet, D. Hélder Câmara, Hubert Jedin, o que na minha opinião coloca
a obra de Kloppenburg como um documento que ainda não recebeu a devida atenção
nem pela direita, nem pela esquerda católicas.
Em
resumo: às vésperas de completarmos sessenta anos da abertura do Vaticano II (2022),
sua história definitiva ainda não foi escrita. E se o bom Deus permitir, até o
começo do próximo ano termino de ler os volumes restantes do Diário de Boaventura
Kloppenburg.
[1] Verbete Kloppenburg, Boaventura.
In: PASSOS, João Décio. – SANCHEZ, Wagner Lopes. Dicionário do Concílio
Vaticano II. São Paulo: Paulinas-Paulus, 2015, pp. 511-514, p. 513.