domingo, 28 de março de 2021

ECUMENISMO: ORIGENS – parte 04. Análise do decreto Unitatis redintegratio e dos diretórios ecumênicos.

O amigo que lê minhas mensagens pelas redes sociais logo perceberá que a publicação de hoje é longa e densa, mas infelizmente é necessário que seja assim. O ecumenismo, pelo menos como eu o aprendi após longos anos de estudos e pesquisas, exige isso: conhecer bem sua própria fé e a fé do outro.

Não recebemos conhecimentos por infusão nem por osmose!

À distância de dezesseis anos analisei o decreto sobre ecumenismo emanado pelo Vaticano II em 1964, seguido dos dois diretórios que aplicavam o decreto: o primeiro publicado entre os anos de 1967-1970 e o segundo em 1994.

O concílio mal havia iniciado e, logo na primeira congregação geral – o nome dado a reunião dos participantes, ou padres-conciliares - inspirados pela rebelião do cardeal Liénart, recusaram-se a votar os documentos pacientemente preparados pelas comissões -pré-conciliares nos mais de quatro anos anteriores:

 

Após a primeira Congregação Geral de outubro de 1962, o documento sobre De Oecumenismo foi dividido, dando origem a cinco outros: Decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo; Decreto Orientalium Ecclesiarum sobre as Igrejas orientais; Decreto Ad Gentes sobre o esforço missionário; Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa; Declaração Nostra Aetate sobre as religiões não-cristãs, além de se encontrarem referências em outros documentos conciliares.

O decreto Unitatis Redintegratio: sobre o ecumenismo foi aprovado na 3ª sessão de 1964 e se posicionou desta forma entre os demais:

 

A reintegração da unidade entre todos os cristãos é um dos objetivos principais do Sagrado Sínodo Ecumênico Vaticano II[1]

 

Os teólogos e padres conciliares que o trabalharam lembraram que o próprio Secretariado pela Unidade dos Cristãos foi uma das primeiras sub-comissões do pré-concílio e que assim, já nos seus preparativos, o concílio era planejado para discutir a unidade dos cristãos. Até aqui, poderíamos levantar a suposição de que o documento não traria novidades, mas tudo mudou quando o decreto comentou o seguinte:

 

E também, por obra do Espírito Santo, surgiu, entre nossos irmãos separados, um movimento sempre mais amplo para restaurar a unidade de todos os cristãos. Este movimento de unidade é chamado movimento ecumênico[2].

 

Esse ponto era fundamental, pois mostrou o reconhecimento da Igreja Católica Romana ao CMI (Conselho Mundial de Igrejas), ao dizer que o Espírito Santo suscitou o movimento ecumênico fora da Igreja Católica, reconhecendo assim sua validade. Desse modo o decreto superava as discussões tratadas nas encíclicas Mortalium Animos e Humani Generis e permitia a participação dos católicos tanto no movimento quanto no diálogo ecumênicos.

Outro ponto chamativo é o que reconhecia a culpabilidade de membros tanto da Igreja Católica, quanto das demais confissões na origem das divisões. Aqui, o decreto visava superar o maniqueísmo que era recorrente entre as confissões e que imputava a uma ou outra, a culpa pelas divisões:

 

Nesta una e única Igreja de Deus, já desde os primórdios, surgiram algumas cisões, que o Apóstolo [Paulo] censura como gravemente condenáveis. Dissensões mais amplas, porém, nasceram nos séculos posteriores. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão da Igreja Católica. Algumas vezes não sem culpa dos homens de ambas as partes. Contudo, os que agora em tais Comunidades nascem e são imbuídos na fé em Cristo não podem ser arguidos do pecado da separação, e a Igreja Católica os abraça com fraterna reverência e amor[3].

 

O principal meio para atingir a tão almejada unidade é a oração:

 

Em algumas circunstâncias peculiares, como por ocasião das orações prescritas ‘pro unitate’ e em reuniões ecumênicas, é lícito e até desejável que os católicos se associem aos irmãos separados na oração. Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a graça da unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos e os irmãos separados: ‘Onde dois ou três estão congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles’ (Mt 18,20)[4].

 

No mesmo parágrafo, o decreto faz um alerta: o perigo da Communicatio in sacris, a Intercomunhão, na qual os fiéis de uma ou outra congregação receberiam os sacramentos que representam a unidade:

 

Todavia não é lícito considerar a intercomunhão (communicatio in sacris) como um meio a ser aplicado indiscriminadamente na restauração da unidade dos Cristãos. Esta intercomunhão depende precípuamente de dois princípios: da unidade da Igreja que ela deve significar e da participação nos meios da graça. A significação da unidade proíbe, na maioria das vezes, a intercomunhão. A busca da graça, às vezes, a recomenda. Sobre o modo concreto de agir decida prudentemente a autoridade do Bispo local, considerando todas as circunstâncias dos tempos, lugares e pessoas, a não ser que outra coisa seja determinada pela conferência episcopal, segundo seus próprios estatutos, ou pela Santa Sé[5]

 

O decreto lembra que, por mais que os católicos devessem se esforçar em buscar a unidade, teriam de reconhecer que ela só seria possível num porvir que não era possível definir. Portanto, a unidade sempre seria um sonho incompleto.

Em seguida, o documento se divide em duas partes: a primeira trata dos colóquios com as Igrejas Ortodoxas. Com relação aos ortodoxos o decreto lembra que, em princípio, poucas são as discrepâncias entre as duas grandes comunidades:

 

Como essas Igrejas, embora separadas, tem verdadeiros sacramentos, principalmente, porém em virtude da sucessão apostólica, o Sacerdócio e a Eucaristia, ainda se unem mais intimamente conosco. Por isso, alguma comunicação nas coisas sagradas não só é possível, mas até aconselhável, dadas as oportunas circunstâncias e com aprovação da autoridade eclesiástica[6].

 

Assim, os problemas de intercomunhão, que tratamos acima, estariam ausentes [ou melhor dizendo, menos salientes] do particular contato com os Ortodoxos. Por fim, o decreto trata das comunidades, que o documento chama de cristãos das comunidades ocidentais, ou traduzindo para uma linguagem mais próxima, os protestantes. O documento reconhece que os pontos de desacordo com os protestantes são maiores que com os ortodoxos, embora o imperativo pela Unidade seja o mesmo:

 

As Igrejas e Comunidades eclesiais que se separaram da Sede Apostólica Romana ou naquela grave situação iniciada no Ocidente, já pelos fins da Idade Média, ou em tempos posteriores, continuam contudo ligados à Igreja Católica pelos laços de uma peculiar afinidade e obrigação por causa da diuturna convivência do povo cristão na comunhão eclesiástica durante os séculos anteriores[7]

 

Aprovados os últimos documentos conciliares ao final de 1965, iniciava-se o chamado pós-concílio. Vinha agora a tarefa de aplicar os dezesseis documentos nas dioceses. O Secretariado [para a Unidade dos Cristãos] foi elevado ao status de Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, passando a fazer parte da Cúria Romana.

Uma das primeiras tarefas do Pontifício Conselho foi produzir um documento que permitisse a aplicação das normas sobre ecumenismo, nascendo o Diretório Ecumênico, que foi publicado em duas partes: a primeira, chamada Ad Totam Ecclesiam[8], publicada em 1967, tratava da aplicação geral de Unitatis Redintegratio à vida das dioceses. Nessa primeira parte, o documento tratava da instituição das comissões diocesanas para o ecumenismo:

 

Parece mui oportuno que em várias dioceses reunidas ou ainda, onde o pedir a situação, em cada diocese; seja instituído um conselho, uma comissão ou um secretariado que, por mandato da Conferência Episcopal ou do Ordinário do lugar, se dedique ao progresso do Ecumenismo[9].

 

O documento continuava dizendo o seguinte a respeito das comissões diocesanas:

 

Esta comissão deve estabelecer contatos mútuos com instituições ou obras ecumênicas já existentes ou que se vão constituir; utilizar quanto possível o seu concurso, e pôr-se à inteira disposição das outras obras diocesanas ou iniciativas particulares, de sorte que mutuamente se informem e trabalhem em comum acordo[10].

 

Logo a seguir, o documento passava a tratar da pastoral de ecumenismo, em particular os seguintes pontos: o batismo entre cristãos, a oração comum e a intercomunhão. Sobre a oração comum, o documento destacava a obrigação que todos os católicos têm de incentivar o ecumenismo:

 

[...] todo cristão, mesmo que não viva entre os irmãos separados, toma parte, sempre e em toda a parte, no movimento ecumênico, conformando toda a sua vida cristã ao espírito do Evangelho inculcado pelo Concílio Vaticano II sem nada excluir do patrimônio cristão comum[11].

 

Aqui, o Diretório ressaltava o papel fundamental da oração em comum entre os cristãos de diversas congregações acima de outras práticas em comum: [...] as orações em comum devem em primeiro lugar ter como objetivo a restauração da unidade entre os cristãos[12].

 

Anos depois, em 1970, a segunda parte veio à luz, chamando-se Spiritus Domini[13], tratando da reestruturação dos seminários e cursos de teologia à luz do ecumenismo. Nessa segunda parte, o documento tratou mais a fundo da questão da formação de especialistas em ecumenismo definindo o seguinte:

 

A ação ecumênica a que nos referimos tem por finalidade: fazer com que os alunos e os professores adquiram um conhecimento mais profundo da fé, da espiritualidade e de toda a vida e doutrina da Igreja Católica, a fim de que possam tomar parte no diálogo ecumênico com maior perspicácia e mais fruto, segundo as próprias possibilidades; atrair a atenção deles para esta renovação interior da Igreja, que é de grande utilidade para a promoção da unidade entre os cristãos e, também, para tudo aquilo que, tanto na vida pessoal deles como na da Igreja, impede ou retarda o progresso para a unidade (UR 4,6 e 7); proporcionar aos professores e aos alunos um conhecimento maior das outras Igrejas ou Comunidades, a fim de que compreendam e apreciem melhor o que une e também o que separa os cristãos (UR 3); e, por fim, como estas atividades não apresentam um caráter exclusivamente intelectual, levar os que nelas participam a terem consciência de que, promover a unidade dos cristãos, é uma obrigação, estimulá-los a trabalharem mais eficazmente para a consecução deste fim, e induzi-los a darem ao mundo moderno, na medida das próprias possibilidades, o testemunho comum dos cristãos[14].

 

Em particular, o documento lembrava o papel que a disciplina histórica tem dentro do diálogo ecumênico: apontar as origens e desdobramentos das divisões entre os cristãos:

 

O modo de ensinar a história deve ser revisto de tal modo que, tratando-se de uma sociedade cristã, se dê a devida atenção às diversas comunidades cristãs, no que diz respeito a toda a sua vida e à sua mentalidade[15]

 

Em 1993 foi publicado um novo diretório[16] superando o anterior em amplitude e profundidade. O atual diretório divide-se em cinco grandes partes: o primeiro capítulo procura situar a Igreja Católica dentro do movimento ecumênico; a seguir, no capítulo dois, [trata d]os órgãos católicos de ecumenismo; no capítulo terceiro trata da formação para o ecumenismo; o capítulo quarto trata exclusivamente das atividades em comum entre os cristãos que compõem o que no capítulo anterior, definimos como pastoral de ecumenismo; e por fim trata, no capítulo quinto, da cooperação entre os cristãos.

Apesar de publicado no ano de 1993 o novo diretório chamava a atenção para a novidade do tema ecumenismo, que achamos interessante destacar: As situações de que o ecumenismo se ocupa não têm muitas vezes precedentes, variando de lugar para lugar e de época para época[17]. Assim o decreto reafirmava um ponto que havíamos destacado: a importância de estudos sobre o ecumenismo, pelo simples fato de ele ser muito pouco conhecido. Outro ponto a se destacar é o papel dos leigos:

 

Dada a importância do papel dos leigos na Igreja e na sociedade, os leigos responsáveis pela ação ecumênica devem ser encorajados a desenvolver contatos e permutas com as outras Igrejas e Comunidades Eclesiais, seguindo as normas deste Diretório[18].

 

Em resumo: o ecumenismo para ser bem compreendido necessita de especialistas sobre o assunto, estudiosos, teólogos, historiadores da Igreja. Ainda há um longo e tortuoso caminho a ser percorrido!

 

Escrevo estas densas linhas no domingo de ramos de 2021. Abre-se a Semana Santa, a mais importante do ano para todos os cristãos, onde reviveremos aqueles dias tensos onde Jesus, por plena e total entrega de amor, morreu na Cruz e redimiu os nossos pecados.

Não podemos seguir indiferentes!

Que a sobriedade e a prudência, mais que palavras de ordem e espírito de cruzada, orientem os cristãos pelo restante deste séc. XXI!



[1] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 01.

[2] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 01.

[3] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 03.

[4] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 08.

[5] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 08.

[6] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 15.

[7] Decreto Unitatis Redintegratio, No. 19.

[8] Cf. ‘Diretório Universal’, in: Coleção Documentos Pontifícios N°167. Petrópolis, Vozes. 1967.

[9] Diretório ecumênico, Parte I, No. 3.

[10] Diretório ecumênico, Parte I, No. 4.

[11] Diretório ecumênico, Parte I, No. 21.

[12] Diretório ecumênico, Parte I, No. 34.

[13] Cf. SEDOC - Junho de 1970. Petrópolis, Vozes. pp. 1503-1530.

[14] Spiritus Domini, Cap. I, No. 02, in: SEDOC - Junho de 1970. Petrópolis, Vozes. pp. 1503-1530.

[15] Spiritus Domini, Cap. I, No. 03, in: SEDOC - Junho de 1970. Petrópolis, Vozes. pp. 1503-1530.

[16] Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo. São Paulo. Paulinas. 1994.

[17] Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo. No. 30.

[18] Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo. No. 86.

domingo, 21 de março de 2021

ECUMENISMO: ORIGENS – parte 03. O ecumenismo católico: a abertura conciliar


À distância de 16 anos, escrevi: 

25 de janeiro de 1959, João XXIII anunciou a intenção de convocar um Concílio Ecumênico para toda a Igreja Católica Romana. O concílio marcou a entrada oficial da Igreja Católica no movimento ecumênico com a criação do Secretariado para a Unidade dos Cristãos.

Giuseppe Alberigo, um dos maiores especialistas do mundo sobre o Concílio Vaticano II nos lembra que:

 “Roncalli persegue a linha ecumênica desde os primeiros instantes, ou seja, desde o discurso de saudação aos participantes do Sínodo Ortodoxo da Bulgária, pronunciado em 26 de agosto de 1925.

Longe de ser um simples pronunciamento de circunstância, Roncalli aproveita a ocasião e afirma a exigência de buscar acima de tudo aquilo que une, sustentando que as Igrejas independentes ortodoxas, do mesmo modo que a Igreja católica, conservaram como um tesouro os dogmas da fé”[1].

O ecumenismo não foi o objetivo principal do Vaticano II, não era tema central na mente do papa João XXIII, pois somente posteriormente foi criado um secretariado exclusivamente dedicado ao tema, o Secretariado pela Unidade dos Cristãos, depois elevado a Pontifício Conselho pela Unidade dos Cristãos, órgão pertencente à Cúria Romana.

Ainda hoje muito se debate sobre o porque o papa quase octogenário – ele tinha 77 anos em 1958 quando eleito, um papa de transição como gostam de rotular os vaticanistas, os autointitulados especialistas nas coisas do Vaticano – convocou um concílio, em um aparente momento de calma e quietude dentro da Igreja Católica após o longo pontificado de Pio XII (1939-1958).

Meses depois do anúncio, João XXIII disse que a inspiração lhe veio como uma inesperada primavera. Belas palavras poéticas que deixam os historiadores desesperados!

Em um documento da época, o então frei Boaventura Kloppenburg, ele mesmo participante da preparação e celebração do Vaticano II, nos revelou que na fase ante-preparatória o tema ecumenismo já constava dos pedidos originais a serem debatidos pelos padres conciliares:

Os índices analíticos. - Essa ampla e gigantesca documentação, formada pelas cartas dos Bispos e Superiores Gerais, em um ano de intenso e diligente trabalho realizado na Secretaria da Comissão Ante preparatória, foi cuidadosamente estudada, coordenada e reduzida, na medida do possível, à forma esquemática e sumária, em curtas frases em latim, exprimindo cada qual uma sugestão ou um desejo de um ou mais Bispos ou Superiores Gerais, citados em nota mediante a indicação da sede da família religiosa. Trata-se de 8972 proposições reunidas em dois tomos com o subtítulo: Analyticus conspectus consiliorum et votorum quae ab Episcopis et Praelatis data sunt. Abarcam toda a matéria doutrinal e disciplinar da Igreja. O primeiro tomo, de VIII+806 pp., consta de 4232 proposições concernentes às questões doutrinais, normas gerais de Direito Canônico, disciplina do clero, Seminários e Leigos. O segundo tomo, 743 pp., contém 4740 proposições relativas aos Sacramentos, lugares sagrados, preceitos eclesiásticos, culto divino, magistério eclesiástico, benefícios e bens temporais da Igreja, processos, delitos e penas, Missões, Ecumenismo e obras caritativas e sociais da Igreja[2].

Essa mudança de orientação do catolicismo, que agora partia em busca de unidade e não de conflito, ainda hoje é tema de debate. Seria pura e simplesmente a prova da tão falada infiltração modernista e cripto-comunista dentro da Igreja? Teria se iniciado o sede-vacantismo, a série de papas indignos do pálio episcopal de bispo romano e consequentemente do trono papal, que segundo os mais radicais tradicionalistas (radtrad) são a prova de que todos os papas que celebraram e aceitaram o Vaticano II seriam indignos, mesmo tendo sido de comprovada santidade e amor à Igreja: João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco?

Na verdade foi o fruto de um paciente trabalho de muitos pioneiros católicos no ecumenismo, que desde a virada do séc. XIX para o XX criaram pontes de diálogo com o mundo não católico e mesmo não cristão e não crente. Aqui poderíamos citar todos aqueles que se esforçaram em apresentar o catolicismo livre de preconceitos e cacoetes, homens como Chesterton, Belloc, Christopher Dawson; e mesmo entusiastas tardios como Daniel-Rops – que dedicou todo o décimo volume de sua monumental História da Igreja a inventariar a história do ecumenismo, Joseph Lortz – que também dedicou metade do segundo volume da sua História de la Iglesia ao mesmo tema, ecumenismo.

 

Na próxima postagem vamos estudar o documento oficial de entrada da Igreja Católica no ecumenismo: decreto Unitatis redintegratio

Até lá!



[1] ALBERIGO, Giuseppe. Ângelo José Roncalli. João XXIII. São Paulo: Paulinas, 2000, p. 76.

[2] KLOPPENBURG, Pe. Frei Boaventura. Concílio Vaticano II: Vol. I. Documentário pré-conciliar. Petrópolis: Vozes, 1962, p. 114. O grifo é meu.

terça-feira, 16 de março de 2021

O QUE REPRESENTA O PAPADO DE FRANCISCO?

Quando eu era ainda jovem - a não tanto tempo assim, infelizmente! – eu assistia muito desenho animado japonês na TV paga. Era um vício miserento: chegava tarde da noite do trabalho, jantava – isso depois de, frequentes vezes, já ter lanchado um x-calabresa completo!!!!!! (DOMINE, MEA CULPA, MEA MAXIMA CULPA!) –, sentava na frente da TV e assistia desenhos animados até o começo da madrugada. No dia seguinte acordava tarde, mas até aí eu só entrava no trabalho às 14:00hs, e ao voltar do trampo lá pelas 22:30hs, 23:00hs ou até mais tarde ainda, lá estava eu de novo na frente da TV, e ainda gravava no meu antigo videocassete, ou seja: no final de semana rolava um “reprise”. Um dos desenhos que me hipnotizava era o Dragon Ball.

Criado ainda nos anos oitenta do séc. XX pelo genial Akira Toriyama, tornou-se uma febre planetária. Resumidamente, contava a saga do alienígena Goku, vindo ainda criança do seu planeta destruído para a nossa Terra. E ao longo das milhares de páginas do mangá (história em quadrinhos), ou pelos episódios do anime (desenho animado) acompanhávamos embevecidos o crescimento do herói: da sua infância na Terra, passando por diversos treinamentos em artes marciais, suas participações nos Torneios de artes marciais, chegando enfim a enfrentar poderosos alienígenas e androides superpoderosos. Suas sagas, cheias de sarcasmo e humor negro, eram o assunto no trabalho, chegando ao ponto da gente criar apelidos com os nomes dos personagens do programa.

Em uma dessas sagas, Goku toma uma baita surra de um rival, Vegeta, e decide usar um golpe supremo, a Genki dama, reunindo a energia vital (ki) emprestada de todos os seres vivos do planeta para reunir em um único golpe e derrotar o vilão. Mas as coisas não andam bem e Goku, muito ferido, “empresta” a Genki dama para seu amigo Kurilin: https://www.youtube.com/watch?v=FywPQlZi6SY ,que infelizmente não consegue usar a genki dama, mas eu pensava que essa imagem serve bem para ilustrar a situação do papado na História da Igreja.

 

Ao longo desses mais de dois mil anos de história, tivemos papas, cardeais, bispos e presbíteros dos mais variados: santos, pecadores, dignos e indignos, além é claro dos inumeráveis fiéis! Mas em uma coisa esses ungidos do Senhor Jesus nunca deixaram de se diferenciar, no caso, o de serem os legítimos portadores do múnus apostólico de ensinar, pregar, ministrar os sacramentos, serem os guardiões da Tradição Católica. São Josemaría Escrivá costumava nos lembrar que os sacerdotes tinham dois anjos: o seu anjo da guarda e o anjo custódio para preservá-los dos perigos inerentes ao seu encargo: ensinar os fiéis, daí o termo Igreja docente, a Igreja que ensina.

O Espírito Santo preserva o papa romano do erro doutrinal quando ele fala Ex catedra, ou seja, oficialmente como sucessor do Apóstolo Pedro, o primeiro papa. Ainda em 1854 Pio IX assim se expressou ao proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria:

 

Para a honra da santa e indivisa Trindade, para a glória e adorno da Virgem mãe de Deus, para a exaltação da fé católica e para o incremento da religião cristã, nós – com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e a nossa – declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que afirma que a Virgem Maria foi, no primeiro instante de sua concepção, preservada intocada por qualquer mancha de pecado original, por um singular privilégio do Deus Todo-Poderoso, em consideração aos méritos de Cristo Jesus, Salvador da humanidade, foi revelada por Deus e por isto deve ser firme e constantemente crida por todos os fiéis[1].

 

Somente o representante de Cristo devidamente investido de uma autoridade especial poderia proclamar que Maria Santíssima fora concebida sem pecado original, o pecado de orgulho dos primeiros pais Adão e Eva. Anos depois, o mesmo Pio IX proclamou o dogma da infalibilidade papal:

 

Nós, aderindo fielmente à tradição recebida desde o começo da fé cristã, com vista à glória do Divino Salvador, à exaltação da religião católica e à segurança do povo cristão (com a aprovação do sagrado concílio), ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o romano pontífice, quando fala ex cátedra (isto é, quando cumprindo o ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina concernente à fé e aos costumes para que seja admitida pela Igreja Universal), pela divina assistência que lhe foi prometida pelo bem-aventurado Pedro, é dotado daquela infalibilidade com que o divino Redentor quis que sua Igreja – definindo uma doutrina concernente à fé e aos costumes – estivesse equipada. E, portanto, que tais definições do romano pontífice são irreformáveis por si mesmas e não em virtude do consentimento da Igreja. Se alguém atrever-se a (que Deus o impeça) contradizer esta nossa definição, seja anátema [excomungado][2].

 

Essas peculiaridades do papado romano me fizeram lembrar de outro desenho que marcou minha infância, Transformers, o filme (1986): https://youtu.be/dMZzlyA9bc0 Autobots e Decepticons partem para a batalha final que decidirá o destino de Cybertron, o planeta natal dos Transformers. Durante a batalha o líder dos Autobots, Optimus Prime, é mortalmente ferido – como se robô morresse, mas enfim... – e ele passa a Matrix (a fonte de poder e legitimidade dos Primes) a Ultramagnus. Após mil e uma peripécias, a Matrix vai parar nas mãos do líder dos Decepticons, Galvatron (que originalmente era Megatron, mas após uma repaginada muda de nome, mas não de - mau - caráter). Aí, na hora em que parecia que tudo iria pro vinagre, eis que o Autobot mais jovem, indisciplinado e rebelde, Rot Rod, é metamorfoseado pela Matrix e se transforma em Rodimus Prime, o novo líder dos Autobots e salva o universo.

Às vezes penso que Deus-Espírito Santo é como a Matrix dos Transformers: escolhe pessoas aos olhos do mundo incapazes para assumir tarefas gigantescas.

 

Uou... admito que aqui exagerei, peguei pesado mesmo, mas penso que era necessário para entendermos corretamente o que representa o papado de Francisco. Ele é o sucessor do Apóstolo Pedro, o primeiro papa, investido do poder do Alto – aliás, como todos os demais 265 antes dele -, mas Deus não o preservou das fraquezas humanas. Ele pode ser pouco claro, escorregar nas cascas de banana da mídia, no dizer do jornalista Carlos Alberto di Franco, mas Jesus ao fundar sua Igreja sabia que ele seria papa assim mesmo.

Debaixo de lama e excrementos o ouro de Deus não perde seu valor. O que precisamos é lavar e limpar bem para que o ouro brilhe novamente e nos mostre toda a sua beleza. Que nos purifiquemos, que rezemos muito pelo papa e por todos os padres e bispos, sucessores legítimos dos Apóstolos!



[1] Bula Ineffabilis Deus, de Pio IX. Apud.: BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: ASTE, 2001, p. 223.

[2] Concilio Vaticano I, sessão IV, cap. 4. Apud.: BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: ASTE, 2001, p. 380.

terça-feira, 9 de março de 2021

ECUMENISMO: ORIGENS parte 02 (O ecumenismo católico. Do conflito ao diálogo).

Semana passada eu tratei das origens históricas do ecumenismo a partir do protestantismo (Cf.: https://teologiadahistoriabrasil.blogspot.com/2021/03/ecumenismo-origens-parte-01-de-onde.html).

Hoje quero tratar dos inícios do ecumenismo católico, assunto dos mais candentes e interessantes para todos à luz dos acontecimentos recentes envolvendo a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 e o intenso debate que tem ocorrido nos ambientes eclesiais.

O ecumenismo não nasceu com o formato com que o conhecemos atualmente. Penso aqui nas imagens bonitas com que o papa Francisco visitou o Iraque em plena pandemia do coronavírus munido de coragem e zelo pastoral. Para o papado romano chegar a abraçar os muçulmanos com o papa fez dias atrás, um longo caminho foi percorrido. Vamos a ele com coragem e paciência na leitura!

 

O Concílio de Trento (1545-1563) marcou uma nova era dentro da Igreja, a ponto de todo o período posterior ser denominado de Tridentino, em uma clara referência a este concílio que precisou o papel da Igreja no nascente mundo moderno, principalmente com relação às Igrejas nascidas da Reforma Protestante. A partir dos fins do século XVIII a Igreja sofreu uma nova reformulação, desta vez para combater o espírito iluminista e revolucionário. Essa crise seria combatida por Pio IX (1846-1878). Como principal medida desse pontificado, os historiadores destacam a celebração do Concílio Vaticano I (1869-1870) e a aprovação do documento Pastor Aeternus, que definiu o dogma da Infalibilidade Pontifícia. Um teólogo brasileiro assim citou o trecho principal do documento:

 

Pondera o Concílio [Vaticano I] que, para conservar o episcopado uno e indiviso e manter a coesão e união íntima dos sacerdotes com a multidão dos crentes na unidade da mesma fé e comunhão, o Eterno Pastor [Pastor aeternus], antepondo são Pedro aos demais Apóstolos, pôs nele o princípio perpétuo e o fundamento visível desta unidade.

(KLOPPENBURG, Frei Boaventura. OFM. Minha Igreja. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 122.)

 

É preciso lembrar uma iniciativa que ocorreu durante a preparação do Concílio, que foi o convite que Pio IX estendeu aos integrantes das demais confissões cristãs.

 

Pio IX queria que o seu concílio fosse plenamente ecumênico. Dirigiu um convite oficial aos bispos cismáticos de rito oriental, para que comparecessem e assistissem “tal como os seus predecessores tinham vindo ao segundo Concílio de Lyon e ao Concílio de Florença”; e até aos protestantes de todas as obediências enviou uma carta paternal, propondo-lhes explicitamente que retomassem contacto com Roma por essa ocasião. A verdade é que esses apelos não foram ouvidos. Os bispos orientais, com apenas quatro exceções, rejeitaram o convite com desdém. Quanto aos protestantes, a atitude foi mais matizada, mas, no fim das contas, também ela negativa.

(DANIEL ROPS. A Igrejas das revoluções I: diante de novos destinos. Trad. Henrique Ruas. São Paulo: Quadrante, 2003, p. 459.)

 

Para os cristãos de outras denominações, o simples fato de ser um evento que dependia do pedido do Papa para ocorrer, por si só era considerado motivo para se declinar o convite. E desse modo somente noventa anos depois, com o Vaticano II, veríamos não católicos assistindo a cerimônias oficiais da Igreja Católica dentro do Vaticano.

Uma consequência desses séculos todos de embates foi o surgimento do estereótipo de que a Igreja Católica procuraria sempre manter uma postura de afastamento com os não católicos, o que não é exatamente uma verdade, já que diversos pontífices alimentaram linhas de pensamento favoráveis a uma postura mais aberta ao mundo moderno, e consequentemente ao ecumenismo, como passaremos a tratar a partir de agora.

Leão XIII produziu a encíclica Satis Cognitum (1896). Ciente da descontinuidade causada pelo encerramento do Concílio Vaticano I [encerrado devido a eclosão da Guerra Franco-Prussiana (1870) e a saída dos bispos franceses do concílio juntamente com as tropas francesas que ocupavam os Estados da Igreja e protegiam o papado da invasão das tropas do Piemonte-Sardenha e de Giuseppe Garibaldi], o objetivo primordial do documento era desenvolver pontos de discussão que não haviam sido suficientemente esclarecidos, em particular a questão do papel dos bispos dentro da Igreja Católica. Além disso, ao procurar precisar o papel dos fiéis dentro da Igreja, lembrava que a Igreja Católica era a plena detentora da mensagem transmitida por Cristo, e que era seu dever que os cristãos de outras confissões voltassem ao redil de Cristo:

 

Sabeis bastante que uma parte considerável dos nossos pensamentos e preocupações é dirigida para este fito: esforçar-nos para reconduzir os transviados ao redil governado pelo Supremo Pastor das almas, Jesus Cristo. (Leão XIII. Satis Cognitum, 1. Petrópolis: Vozes, 1951).

 

Apesar do tom pouco conciliador, este documento foi importante por identificar claramente a Igreja Católica frente às demais confissões cristãs. A importância vinha do fato de que qualquer conversação ecumênica deveria ser precedida com um esforço de se conhecer sua própria identidade. Nesse sentido, a encíclica Satis Cognitum prestou um inusitado e importante serviço à causa ecumênica. Mesmo assim havia momentos no documento em que Leão XIII já apontava para uma linha mais aberta e tolerante:

 

[...] está na missão de Cristo redimir da morte e salvar “o que perecera”, isto é, não somente algumas nações ou algumas cidades, senão a universalidade do gênero humano todo, sem distinção alguma nem no espaço nem no tempo.

(Leão XIII. Satis Cognitum, 8. Petrópolis: Vozes, 1951).

 

Leão XIII, coerente com a doutrina católica, defendia a conversão ao catolicismo.

Anos depois Pio XI publicou a encíclica Mortalium Animos (1928) que permaneceu como um marco nas relações entre a Igreja Católica anterior ao Vaticano II e as Confissões Cristãs. [Vale lembrar que nesse momento o movimento ecumênico contava apenas dezoito anos, tendo sido iniciado formalmente em 1910]. Pio XI defendia claramente que:

 

Há apenas um modo pelo qual a unidade dos cristãos pode ser promovida: trabalhar pelo retorno à única igreja verdadeira de Cristo daqueles que dela se separaram, pois foi desta única igreja verdadeira que eles se separaram no passado.

(Pio XI. ‘Mortalium animos’, in: OUTLER, Albert C. Para que o mundo creia. São Paulo: Imprensa Metodista, 1973, p. 122).

 

Para Pio XI as concepções teológicas e propostas de unidade do Movimento Ecumênico eram incompatíveis com a ortodoxia católica, daí a condenação sistemática do ecumenismo. Para o papa os “pan-cristãos” falavam de um espírito que não era o Espírito Santo, mas um espírito de morte [Mortalium animos] que levaria à descaracterização da mensagem cristã, justificando assim o nome do documento.

Era nesse momento de ebulição dentro dos ambientes ecumênicos que Pio XII produziu dois documentos que faziam referência ao ecumenismo. A encíclica Mystici Corporis Christi (1943) sobre o corpo místico de Cristo reafirmou a doutrina da Unidade da Igreja:

 

Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o lavacro da regeneração e professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do organismo do Corpo, ou não foram dele cortados pela legítima autoridade em razão de culpas gravíssimas.

(Pio XII. Mystici Corporis Christi. 2ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1950, N°20).

 

Pela via negativa, podemos dizer que aqueles que não propositalmente abandonaram a Igreja Católica não podem ser automaticamente condenados como podemos deduzir do trecho abaixo:

 

Mas se desejamos que sem interrupção subam até Deus as orações de todo o Corpo Místico implorando que os errantes entrem quanto antes no único redil de Jesus Cristo, declaramos contudo ser absolutamente necessário que eles o façam espontaneamente e livremente, pois que ninguém crê, senão por vontade. [...] Por conseguinte se alguns que não creem são realmente forçados a entrar nos templos, a aproximar-se do altar e a receber os sacramentos, não se fazem verdadeiros cristãos.

(Pio XII. Mystici Corporis Christi. 2ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1950, N°104).

 

Humani Generis (1950), produzida para combater o Modernismo, não tratava diretamente sobre ecumenismo mas havia trechos em que colocava sob suspeita o movimento ecumênico:

 

[...] não julguem, levados por um falso irenismo, que se possa obter o suspirado retorno dos dissidentes e dos errantes ao seio da Igreja se não se lhes ensina, sinceramente, sem nenhuma diminuição, toda a verdade professada pela Igreja. (Pio XII. Humani Generis, 42).

 

Pio XII alertava sobre os perigos do ecumenismo fácil que prometia restaurar em poucas décadas a separação de séculos.

Podemos dizer que a Igreja Católica alternava momentos de maior e menor abertura para o ecumenismo, indo por terra a ideia de que a Igreja Católica estava completamente fechada para o diálogo até a celebração do Concílio Vaticano II.

 

Em resumo, podemos dizer que:

a)  Até os anos cinquenta do século XX o papado romano via com suspeição o movimento ecumênico, embora algumas ideias essenciais para o início dos diálogos ecumênicos já tinham sido plantadas, a saber:

a.1) A doutrina católica deve ser apresentada com clareza, sem exageros nem omissões;

a.2) Os atuais fiéis das Igrejas protestantes estão eximidos da culpa pela separação, afirmação importante que permite a aproximação e o diálogo.

De qualquer modo, a mensagem geral que ficava era a de que o ecumenismo deveria levar a volta ao catolicismo romano e a obediência ao papado. Essa atitude era explicada pelo espírito de animosidade contra o catolicismo e a concepção da teologia do ecumenismo, naquele momento incompatível com a doutrina católica.

Mas como veremos nas postagens seguintes essa recusa ao diálogo ecumênico iria mudar para uma abertura sem precedentes.

 

O restante deixemos para outro dia.

Exagerei aqui e o meu leitor já deve estar extenuado lendo tantas citações e comentários...