terça-feira, 16 de março de 2021

O QUE REPRESENTA O PAPADO DE FRANCISCO?

Quando eu era ainda jovem - a não tanto tempo assim, infelizmente! – eu assistia muito desenho animado japonês na TV paga. Era um vício miserento: chegava tarde da noite do trabalho, jantava – isso depois de, frequentes vezes, já ter lanchado um x-calabresa completo!!!!!! (DOMINE, MEA CULPA, MEA MAXIMA CULPA!) –, sentava na frente da TV e assistia desenhos animados até o começo da madrugada. No dia seguinte acordava tarde, mas até aí eu só entrava no trabalho às 14:00hs, e ao voltar do trampo lá pelas 22:30hs, 23:00hs ou até mais tarde ainda, lá estava eu de novo na frente da TV, e ainda gravava no meu antigo videocassete, ou seja: no final de semana rolava um “reprise”. Um dos desenhos que me hipnotizava era o Dragon Ball.

Criado ainda nos anos oitenta do séc. XX pelo genial Akira Toriyama, tornou-se uma febre planetária. Resumidamente, contava a saga do alienígena Goku, vindo ainda criança do seu planeta destruído para a nossa Terra. E ao longo das milhares de páginas do mangá (história em quadrinhos), ou pelos episódios do anime (desenho animado) acompanhávamos embevecidos o crescimento do herói: da sua infância na Terra, passando por diversos treinamentos em artes marciais, suas participações nos Torneios de artes marciais, chegando enfim a enfrentar poderosos alienígenas e androides superpoderosos. Suas sagas, cheias de sarcasmo e humor negro, eram o assunto no trabalho, chegando ao ponto da gente criar apelidos com os nomes dos personagens do programa.

Em uma dessas sagas, Goku toma uma baita surra de um rival, Vegeta, e decide usar um golpe supremo, a Genki dama, reunindo a energia vital (ki) emprestada de todos os seres vivos do planeta para reunir em um único golpe e derrotar o vilão. Mas as coisas não andam bem e Goku, muito ferido, “empresta” a Genki dama para seu amigo Kurilin: https://www.youtube.com/watch?v=FywPQlZi6SY ,que infelizmente não consegue usar a genki dama, mas eu pensava que essa imagem serve bem para ilustrar a situação do papado na História da Igreja.

 

Ao longo desses mais de dois mil anos de história, tivemos papas, cardeais, bispos e presbíteros dos mais variados: santos, pecadores, dignos e indignos, além é claro dos inumeráveis fiéis! Mas em uma coisa esses ungidos do Senhor Jesus nunca deixaram de se diferenciar, no caso, o de serem os legítimos portadores do múnus apostólico de ensinar, pregar, ministrar os sacramentos, serem os guardiões da Tradição Católica. São Josemaría Escrivá costumava nos lembrar que os sacerdotes tinham dois anjos: o seu anjo da guarda e o anjo custódio para preservá-los dos perigos inerentes ao seu encargo: ensinar os fiéis, daí o termo Igreja docente, a Igreja que ensina.

O Espírito Santo preserva o papa romano do erro doutrinal quando ele fala Ex catedra, ou seja, oficialmente como sucessor do Apóstolo Pedro, o primeiro papa. Ainda em 1854 Pio IX assim se expressou ao proclamar o dogma da Imaculada Conceição de Maria:

 

Para a honra da santa e indivisa Trindade, para a glória e adorno da Virgem mãe de Deus, para a exaltação da fé católica e para o incremento da religião cristã, nós – com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e a nossa – declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que afirma que a Virgem Maria foi, no primeiro instante de sua concepção, preservada intocada por qualquer mancha de pecado original, por um singular privilégio do Deus Todo-Poderoso, em consideração aos méritos de Cristo Jesus, Salvador da humanidade, foi revelada por Deus e por isto deve ser firme e constantemente crida por todos os fiéis[1].

 

Somente o representante de Cristo devidamente investido de uma autoridade especial poderia proclamar que Maria Santíssima fora concebida sem pecado original, o pecado de orgulho dos primeiros pais Adão e Eva. Anos depois, o mesmo Pio IX proclamou o dogma da infalibilidade papal:

 

Nós, aderindo fielmente à tradição recebida desde o começo da fé cristã, com vista à glória do Divino Salvador, à exaltação da religião católica e à segurança do povo cristão (com a aprovação do sagrado concílio), ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o romano pontífice, quando fala ex cátedra (isto é, quando cumprindo o ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina concernente à fé e aos costumes para que seja admitida pela Igreja Universal), pela divina assistência que lhe foi prometida pelo bem-aventurado Pedro, é dotado daquela infalibilidade com que o divino Redentor quis que sua Igreja – definindo uma doutrina concernente à fé e aos costumes – estivesse equipada. E, portanto, que tais definições do romano pontífice são irreformáveis por si mesmas e não em virtude do consentimento da Igreja. Se alguém atrever-se a (que Deus o impeça) contradizer esta nossa definição, seja anátema [excomungado][2].

 

Essas peculiaridades do papado romano me fizeram lembrar de outro desenho que marcou minha infância, Transformers, o filme (1986): https://youtu.be/dMZzlyA9bc0 Autobots e Decepticons partem para a batalha final que decidirá o destino de Cybertron, o planeta natal dos Transformers. Durante a batalha o líder dos Autobots, Optimus Prime, é mortalmente ferido – como se robô morresse, mas enfim... – e ele passa a Matrix (a fonte de poder e legitimidade dos Primes) a Ultramagnus. Após mil e uma peripécias, a Matrix vai parar nas mãos do líder dos Decepticons, Galvatron (que originalmente era Megatron, mas após uma repaginada muda de nome, mas não de - mau - caráter). Aí, na hora em que parecia que tudo iria pro vinagre, eis que o Autobot mais jovem, indisciplinado e rebelde, Rot Rod, é metamorfoseado pela Matrix e se transforma em Rodimus Prime, o novo líder dos Autobots e salva o universo.

Às vezes penso que Deus-Espírito Santo é como a Matrix dos Transformers: escolhe pessoas aos olhos do mundo incapazes para assumir tarefas gigantescas.

 

Uou... admito que aqui exagerei, peguei pesado mesmo, mas penso que era necessário para entendermos corretamente o que representa o papado de Francisco. Ele é o sucessor do Apóstolo Pedro, o primeiro papa, investido do poder do Alto – aliás, como todos os demais 265 antes dele -, mas Deus não o preservou das fraquezas humanas. Ele pode ser pouco claro, escorregar nas cascas de banana da mídia, no dizer do jornalista Carlos Alberto di Franco, mas Jesus ao fundar sua Igreja sabia que ele seria papa assim mesmo.

Debaixo de lama e excrementos o ouro de Deus não perde seu valor. O que precisamos é lavar e limpar bem para que o ouro brilhe novamente e nos mostre toda a sua beleza. Que nos purifiquemos, que rezemos muito pelo papa e por todos os padres e bispos, sucessores legítimos dos Apóstolos!



[1] Bula Ineffabilis Deus, de Pio IX. Apud.: BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: ASTE, 2001, p. 223.

[2] Concilio Vaticano I, sessão IV, cap. 4. Apud.: BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: ASTE, 2001, p. 380.

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