Meses atrás comecei um trabalho monumental: ler o diário que o então Frei Boaventura Kloppenburg escreveu sobre sua participação no Concílio Vaticano II (1962-1965). Obra enorme, contabilizando cinco volumes, detalha seu ponto de vista do maior encontro de bispos da história do catolicismo. Em uma postagem na minha conta pessoal no Instagram (Cf.: https://www.instagram.com/p/CJJ7-57Jy6x/?utm_source=ig_web_copy_link Acessado no dia 06/03/2021 às 22;22hs) eu expliquei o que me levou a iniciar a leitura desse enorme documento.
No primeiro volume, dedicado ao levantamento de documentos oficiais publicados pelo então papa João XXIII (1958-1963) sobre o Vaticano II, deparei-me com a Carta apostólica Le voci che [As vozes que...] sobre S. José, Padroeiro do Concílio. Texto simples porém piedoso do papa camponês sobre São José, esposo de Nossa Senhora. Destaquei um trecho longo onde ele recapitulou as ações dos papas antecessores sobre a festa de São José que ocorrerá no próximo dia 19/03/2021. Creio que a leitura será proveitosa a todos os devotos do santo patriarca.
8. S. José, Padroeiro
do Concílio
São José na voz dos
papas dos cem últimos anos[1]
Entre os diversos postulata
que os Padres do I Concílio Vaticano, reunidos em Roma (1869-1870) apresentaram
a Pio IX, os dois primeiros eram concernentes a S. José. Antes de tudo pedia-se
que o seu culto tivesse lugar mais elevado na Sagrada Liturgia; trazia a
assinatura de 153 Bispos. O outro, assinado por 43 Superiores Gerais de ordens
religiosas, suplicava a solene proclamação de S. José como Patrono da Igreja
Universal (Acta et Decreta Conciliorum Recentiorum, Collectio Lacensis,
tomo VII, col. 856-857).
Pio IX. – Pio IX
acolheu um e outro com alegria. Desde o início de seu pontificado (10 de dezembro
de 1847) havia fixado a festa e a liturgia para o patrocínio de São José no III
domingo depois da Páscoa. Já em 1854. Em vibrante e fervorosa alocução,
indicara S. José como a esperança mais segura da Igreja depois da Virgem Santíssima;
e no dia 08 de dezembro de 1870, suspenso o Concilio Vaticano pelos
acontecimentos políticos, escolheu a feliz coincidência da festa da imaculada
Conceição para a proclamação mais solene c oficial de S. José como padroeiro da
Igreja universal e para a elevação da festa de 19 de março à celebração de rito
duplo de 1ª classe (Decr. Quemadmodum Deus, 8 de dez. 1870, Acta Pii
IX P. M., t.5, Roma 1873, p. 282).
Foi o daquele 8 de
dezembro de 1870 - um breve, mas precioso e admirável Decreto “Urbi et Orbi”,
verdadeiramente digno do Ad perpetuam rei memoriam, que abriu um veio de
riquíssimas e preciosas inspirações aos Sucessores de Pio IX.
Leão XIII. — Com
efeito, eis que o imortal Leão XIII apresenta para a festa da Assunção de 1889,
com a carta Quamquam pluries (Acta Leonis XIII P. M., Roma 1890, pp.
175-180), o documento mais amplo c copioso até então publicado por um Papa, em
honra do pai putativo de Jesus, elevado em sua luz característica de modelo dos
pais de família e dos operários. Provém daí a bela oração: “A vós, ó Bem-
aventurado S. José”, que encheu de tanta doçura nossa infância.
S. Pio X. — O Santo
Pontífice Pio X acrescentou às expressões do Papa Leão XIII numerosas outras de
devoção e de amor para com S. José, acolhendo de bom grado a dedicatória que
lhe foi feita de um tratado que ilustra seu culto (Epist. ad R. P. A.
Lépicier, O.S.M., 12 fev. 1908; Acta Pii X P. M., Roma 1914, pp.
168-169), e multiplicando o tesouro das indulgências para a recitação das
Ladainhas, tão caras e tão doces de dizer. Como estão bem expressos os termos
dessa concessão! “Sanctissimus Dominus Noster Pius X inclytum patriarcham S.
loseph, divini Redcmptoris patrem putativum, Deiparae Virginis sponsum
purissimum et catholicae Ecclesiae potentem apud Deum Patronum” - e vede que
delicadeza de sentimentos pessoais - “cuius glorioso nomine e nativitate
decoratur, peculiari atque constante religione ac pietate complectitur” (A.A.S.
I, 1919, p. 220). E os termos com que anunciou os motivos dos novos favores
concedidos: “ad augendum cultum erga S. loseph, Ecclesiae universalis Patronum”
(Decr. S. Cong. dos Ritos, 24 de julho de 1911; A.A.S., 1911, p.
351).
Bento XV. - Ao
desencadear-se a primeira grande guerra europeia, quando os olhos de S. Pio X
se fechavam à vida terrestre, eis que aparecia providencialmente o Papa Bento
XV, que atravessou qual um astro benéfico de consolação universal os anos
dolorosos de 1914 a 1918. Também ele quis logo promover o culto do Santo
Patriarca. Com efeito, é a ele que se deve a introdução de dois novos prefácios
da Santa Missa: precisamente o de S. José e o da Missa dos defuntos, associa
com felicidade um e outro em dois decretos do mesmo dia, 9 de abril de 1919 (A.A.S.,
XI, 1919, pp. 190-191) como a lembrar uma concomitância e fusão de dor e de
conforto entre as duas famílias: a família celeste de Nazaré, da qual S. José
era o chefe legal, e a imensa família humana afligida por uma consternação
universal pelas inúmeras vítimas da guerra devastadora. Que triste, mas também
suave e feliz aproximação: Duma parte, S. José e de outra o signifer sanctus
Michael: ambos apresentando as almas dos defuntos ao Senhor in lucem
sanctam.
No ano seguinte - 25 de
julho de 1920 - o Papa Bento XV voltava a este assunto no cinquentenário, que
então se preparava, da proclamação —- já feita por Pio IX - de S. José como
Padroeiro da Igreja universal; e voltava numa luz de doutrina teológica com o Motu
próprio Bonum Sane (25 de julho de 1920, A.A.S. 1920, p. 313), todo
impregnado de ternura e singular confiança. Oh! que belo iluminar-se da suave e
benévola figura do Santo, que ele faz o povo cristão invocar para proteger a
Igreja militante, no momento mesmo em que reflorescem suas melhores energias
para a reconstrução espiritual e material, depois de tantas calamidades; e para
reconforto de tantos milhões de vítimas humanas que jaziam às portas da morte e
para as quais o Papa Bento XV queria pedir aos Bispos e às numerosas
associações piedosas espalhadas pelo mundo, a intervenção suplicante de suas
orações a S. José, padroeiro dos agonizantes.
Pio XI e Pio XII. -
Seguindo a mesma linha de conselho da devoção fervorosa ao Santo Patriarca, os
dois últimos Pontífices - Pio XI e Pio XII - ambos sempre de cara e venerável
memória - se sucederam numa viva e edificante fidelidade de ensino, de
exortação, de fervor.
Pelo menos quatro vezes,
Pio XI, em solenes alocuções relativas à glorificação de novos Santos e, frequentemente,
na ocorrência de 19 de março - por exemplo em 1928 (Discorsi di Pio XI,
S.E.I., vol. 1, 1922-1928, pp. 779-780); depois em 1935 e ainda em 1937 -
aproveitou a ocasião para exaltar as diferentes luzes que ornam a fisionomia
espiritual do Guardião de Jesus, do castíssimo esposo de Maria, do piedoso e
modesto operário de Nazaré, e do padroeiro da Igreja universal, poderoso escudo
de defesa contra os esforços do ateísmo mundial que visa a desagregação das
nações cristãs.
Também Pio XII tomou de
seu Predecessor a nota fundamental no mesmo tom, em numerosas alocuções, todas
tão belas, vibrantes e felizes.
Como a 10 de abril de
1940 (Discorsi e Radiomessaggi di S. S. Pio XII. vol. II, pp. 65-69),
quando convidava os jovens esposos a se colocarem sob o seguro e suave manto do
Esposo de Maria; e em 1945 (ib., vol. VII, pp. 5-10), quando convidava os
membros da Associação Cristã dos Operários a honrá-lo como elevado exemplo e
defensor invencível de suas falanges; e dez anos depois, em 1955 (ib., vol.
XVII, pp. 71-76), quando anunciava a instituição da festa anual de S. José
Operário. Na realidade, esta festa, de instituição recentíssima, fixada a 1º de
maio, veio suprimir a da 4ª feira da segunda semana de Páscoa, enquanto a festa
tradicional de 19 de março marcara de agora em diante a data mais solene e definitiva
do Patrocínio de S. José sobre a Igreja Universal[2].
[1] Lembrando que o papa publicou o
Decreto em 1961.
[2] João XXIII, Carta apostólica Le
voci che [As vozes que...] sobre S. José, Padroeiro do Concílio. In: KLOPPENBURG,
Pe. Frei. Boaventura. Concílio Vaticano II: Vol. I. Documentário
pré-conciliar. Petrópolis: Vozes, 1962, p. 68-71.
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