sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Onze de setembro

 

(Eu, em foto de 2007)

Se completaram vinte anos do maior atentado terrorista da História, o onze de setembro de dois mil e um, September Eleven para os americanos, ou simplesmente 9/11. Após duas décadas, todos os que testemunharam e viveram aqueles dias já são maduros, passados dos quarenta ou dos cinquenta, e penso que já estamos à uma distância segura dos acontecimentos para pesarmos um pouco melhor o que se passou.

Naquele dia eu havia acordado cedo pra derrubar as torres gêmeas... de provas! Sim, como plantonista de um grande cursinho pré-vestibular, eu tinha um prazo de entrega naquele dia, e como sempre estava apavorado com a possibilidade de não entregar à tempo. Eram centenas, às vezes milhares de provas que precisavam ser corrigidas para que outros colegas continuassem o trabalho, já que a prova escrita continha questões de outras matérias. Se eu me atrasasse, o chefe podia chiar.
Lá estava eu gastando uma caneta vermelha atrás da outra - professor que se preze sempre anda com caneta vermelha - quando minha mãe, lá da cozinha, ouviu o rádio noticiar que um pequeno avião havia batido contra o World Trade Center, o chamado edifício das Torres Gêmeas em Nova Iorque. Ela disse: "Um pequeno avião bateu no World Trade Center!". Lembro que parei um instante no que eu estava fazendo, mas logo a seguir dei continuidade no trabalho, afinal, prazo era prazo, né?
Dali alguns minutos o rádio noticiava que um segundo avião batia nos mesmos prédios. Aí eu parei o que estava fazendo e eu e minha mãe, com os olhos grudados na tevê, assistimos aquelas cenas que todos cansaram de ver reproduzidas nas últimas duas décadas: os prédios em chamas, os bombeiros e os policiais nova-iorquinos correndo para ajudar as pessoas nas ruas, e logo a seguir os dois edifícios enormes desabando sobre si mesmos, as nuvens de fumaça, as informações desencontradas sobre os aviões usados como kamikazes a destruir o Pentágono - a sede do comando militar norte-americano - e outro que caiu no meio do mato após uma luta renhida entre os sequestradores e os passageiros. 
Eu me lembro de estar paralisado olhando aquelas cenas na tevê. Nem sei quando, o telefone tocou e atendi. Era um colega meu do cursinho, professor e plantonista de geografia, leitor voraz de Michel Foucault. Ele estava gritando no telefone: "Edizzzooooonnnnn!!!! Meu, o que está acontecendooooooo?????". "Sei tanto quanto você", respondi. E ele desligou. 
Após o almoço segui para a Avenida Paulista, entregar as questões de história corrigidas, e temendo uma reprimenda. Qual não foi a minha surpresa quando ao me ver ele virou pro lado e comentou com o outro chefe: "Os dois prédios já caíram!". Foi a única vez em nove anos de empresa em que não fui repreendido por entregar as provas com atraso. 
Quando chegou a noite, eu e o meu chefe saímos para o jantar, e ele disse: "Vem comigo. Vamos saber o que está acontecendo..."
Aqui vale uma pequena explicação: estávamos em 2001. Smartphones, laptops, tablets eram apenas sonhos de consumo de uma minoria, ou simplesmente ficção científica. No máximo um celular de tela monocromática que com sorte recebia e completava ligações. Eu só teria um meu em 2004. Vídeos, só na tela dos PCs e olhe lá, pois a maioria ainda usava conexão discada por linha telefônica, aquela do chiado que saia da torre do computador, e banda larga era de apenas de 1Mb - acreditem, a Telefônica anunciava como se fosse a maior maravilha do mundo, e era mesmo! Pra completar, como trabalhávamos no segundo subsolo, o celular não pegava. Pra saber as novidades só mesmo saindo do prédio. 
Contextualizado o cenário, voltemos...
Eu e o meu chefe fomos ao saguão do Sheraton Hotel, a poucas quadras da Avenida Paulista. Foi somente lá que eu tive a noção do que significava o Atendado de 11 de Setembro pros norte-americanos: o saguão do hotel estava lotado de norte-americanos. Todos olhavam para o alto, olhos fixos nas telas das tevês dos noticiários internacionais. Lembro que vi um deles com um copo de Whisky, creio eu, e o tempo todo ele ficou com o copo levantado, entre a mesa e a boca, assistindo a tevê sem nem mesmo piscar. Aquilo me impressionou muito. 
Lembro que uns dias depois, ao sair com outros colegas de serviço, eles comentaram comigo: "Esse acontecimento vai ter desdobramentos imprevisíveis. Nem dá pra imaginar o que vai acontecer a seguir...". Aquilo me deixou pensativo por muito tempo. 
Nos meses seguintes vimos a invasão do Afeganistão, a caçada a Al-Qaeda e ao mentor dos atentados, Osama Bin Laden - um ex-agente da CIA treinado para apoiar a luta dos Mujahedeen, os futuros Taleban, contra os soviéticos -, e depois a invasão do Iraque em 2003, a morte de Osama em 2011, e por fim chegamos a 2021 e a retirada atrapalhada dos norte-americanos do Afeganistão. 
Nestes vinte anos vi o mundo ficar mais inseguro, assim como nosso Brasil. Aprendemos a duras penas que as coisas importantes demoram e dão trabalho para serem feitas, que não existem passes de mágica e jeitinhos nas coisas sérias da vida. Isso vale tanto para a vida comum quanto para as grandes questões do nosso país e do mundo. Se o mundo está em crise espiritual em moral, não será da noite para o dia que restauraremos a normalidade, mas será trabalho de décadas, possivelmente séculos de trabalho obscuro e sacrificado, sem espetáculo. 
Pensemos muito nisso!

Enfim... queria compartilhar com vocês essas breves impressões tiradas do baú da memória. Espero que sejam úteis de alguma forma.

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