terça-feira, 28 de novembro de 2023

O SENTIDO DA VIDA (parte II)

 


Na postagem anterior deixei uns questionamentos para meus pobres seguidores sobre o que nos motiva a seguir vivendo: estar bem alimentado, sentir prazer o tempo todo, ganhar/gastar dinheiro... Coisas em si mesmas boas, mas... mesmo que a gente satisfizesse todos esses desejos chegaria um ponto em que não conseguiria mais se sentir feliz com elas.

Mas agora vem outra pergunta angustiante: se o fim da vida não está no prazer e nas coisas, onde está? Está no universo? Nas energias positivas? Está em plantar uma árvore, gerar um filho e escrever um livro? Dar nome a alguma rua? Se não respondermos adequadamente a essa pergunta, voltaremos ao ponto de partida.

Certo dia o psicanalista do sentido da vida Victor Frankl foi questionado: “Dr. Frankl, tenho vinte e cinco anos, sexo e dinheiro à vontade. E lhe pergunto: pra que???”[1]. Essa pergunta me fez lembrar a famosa frase do pensador existencialista Søren Kierkegaard: “o homem tem sede do absoluto”.

No seu pequenino livro A morte de Ivan Illich Leon Tolstói brilhantemente resumiu o drama de cada um de nós diante de sua mortalidade. Ao parafrasear o famoso silogismo: o homem é mortal / Sócrates é homem / logo, Sócrates é mortal; Ivan Illich exclama: isso faz sentido para Sócrates, não para Ivan Illich! E admitamos: todas as vezes que sentimos dores, preocupações, decepções, medos, receios, essa desagradável sensação de finitude e impotência nos assalta.

Esse é que é o correto questionamento do problema. Nosso fim não pode estar no mundo nem no tempo, mas em algo ou Alguém que transcenda o mundo e o tempo, senão acabaremos por esbarrar na velha limitação da matéria, que por maior, mais poderosa e bela que seja, um dia acaba.

Quem me conhece sabe o nome desse cidadão a quem me refiro: é Deus. Onipotente, onipresente e onisciente, vindo desde toda eternidade e rumando para a mesma eternidade, capaz de criar a partir do nada, e fazer tudo a qualquer momento voltar ao mesmo nada.

Mas Deus não deve nos meter medo. Ele não se impõe pela força. Ele não age assim. Nas próximas notas espero tratar mais dos atributos divinos e de pistas para podermos racionalmente ligar com a questão da fé e da crença apresentando alguns rudimentos de filosofia da religião. Até lá!!!!!!!!!



[1] FRANKL, Victor. Sede de sentido. Quadrante, São Paulo: várias edições. Outro livrinho que ajudará um leitor questionador na busca do sentido da existência é o do saudoso bispo Rafael Llano Cifuentes Grandeza de coração (Quadrante, São Paulo: várias edições).

domingo, 19 de novembro de 2023

O SENTIDO DA VIDA (parte I)



O mundo moderno existe e funciona com ânsias de eternidade, embora não saiba. Basta ver como se organizam empresas, grupos, associações, sempre com vistas a extrapolar suas próprias existências. Nós mesmos nos enchemos de coisas a fazer, pensar, trabalhamos incansavelmente para passarmos finais de semana prolongados sem fazer nada. E quando finalmente acabam lá vamos nós pensando nas férias, nas festas de final de ano, no próximo final de semana, e assim por diante.

Vamos deixar bem claro que não sou contra o descanso e o repouso, nada disso! Quem trabalha precisa descansar, mas não deve ser um descanso inativo, mas ativo: cultivar um hobby, ler bons livros, dormir bem, encontrar amigos, passear... há uma infinidade de opções sadias e boas.

Mas... Não haverá nada mais a esperar da vida além disso?

O evangelho do 33º domingo do tempo comum nos obriga a pensar nisso (Cf.: Mt. 25, 14-30). Um senhor deixou com três servos cinco, dois e um talento. O talento era uma medida de riqueza, e equivalia a vinte e cinco quilos de prata, o que na época era um dinheirinho bom, igual prêmio da Lotofácil. Pois bem, o senhor – que na verdade é Deus – dá dons para cada um de nós, mas espera que a gente os faça frutificar com boas obras quando ele vier nos visitar.

Os japoneses tem até um termo para definir uma vida altruísta, voltada para o bem do próximo e que dá um sentido para tudo: ikigai. Se do ponto de vista humano não podemos simplesmente viver olhando pro nosso próprio umbigo, quanto mais se olharmos nossa vida com ânsias de eternidade e vida após a morte! O que eu queria deixar aqui como reflexão hoje é pensar e refletir com calma e coragem: a vida da gente é só isso? Comer, beber, se divertir, namorar, casar, copular, gerar uns remelentos e depois esperar a hora de morrer?

terça-feira, 7 de novembro de 2023

FASCISMO, parte I

Meses atrás li a Autobiografia de Chesterton, escrito pelo próprio escritor por insistência de seus amigos meses antes de sua morte, li um trecho curioso:

 

Tudo isso fracassou; os Parlamentos continuam a prosperar; isto é, continuam a apodrecer. Vivemos o suficiente para ver a última fase, quando a revolta contra a podridão nas instituições representativas foi deflagrada um pouco mais ao sul, logo às portas de Roma; e esta não fracassou. Mas trouxe consigo mudanças não inteiramente reconfortantes àquele que ama a liberdade e a antiga noção inglesa de um Parlamento livre. Tenho orgulho de ter estado entre aqueles que tentaram salvá-lo, mesmo que fosse tarde demais. (CHESTERTON, G.K. Autobiografia. Campinas-SP: Ecclesiae, 2012, p. 247).

Chesterton morreu em 1936, logo a sublevação a que ele se referia só podia ser a chegada ao poder pela força do fascismo italiano de Benito Mussolini (1922-1945). Essa sublevação, que Chesterton reconheceu que vinha para consertar a ordem democrática decadente – as instituições representativas apodrecidas – possivelmente deve ter animado Chesterton, mas logo a seguir o desanimou já que não se mostrou capaz de deter nem o processo de apodrecimento da política, nem muito menos deixar de revelar sua vertente totalitária de ausência de liberdade individual, o culto à violência e o militarismo, tão bem demonstrados no decorrer da 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Quando muito você apenas atrasava a decadência das instituições, quando não apressava o fim via (re)ação dos setores progressistas.

Sendo assim, me causa espanto que o pensamento e a ação autoritárias e totalitárias do fascismo italiano e do nazismo alemão não recebam dos círculos conservadores a mesma crítica que costumam dar à esquerda e ao comunismo.

Enfim, infelizmente preciso terminar esta notinha, deixando mais esta ponta solta para meus raros seguidores. Concordo que este assunto merece reflexões mais demoradas, tipo umas dúzias de notinhas curtinhas.

Boa tarde!