Queridos amigos, boa
tarde/noite. Alguns devem estar se perguntando porque ando tão sumido das redes
sociais. No último mês andei extremamente ocupado com questões de saúde de
familiares que me absorveram mais de 110% do meu escasso tempo, e aí as parcas
atividades intelectuais que desenvolvo – estas notinhas semanais – ficaram
mal-paradas.
Imagine seu melhor amigo,
aquele em quem você mais confia e ama decidindo morrer no seu lugar por uma
culpa que era só sua. Seu amigo não tem nada a ver com sua história, seus
erros. E você mesmo assim foge, finge que não conhece ele, até se alegra em ver
seu melhor amigo morrendo por você, afinal: “antes ele do que eu!”. Pois é:
esse amigo é o Amigo, Jesus Cristo, que morreu por cada um de nós na Cruz! Na semana
santa meditamos esse sacrifício de Jesus Cristo.
Ele não quer que o
pecador morra, mas que se salve. Se acabamos por terminar na danação eterna, o
inferno, será por nosso livre arbítrio e não por circunstancias sociológicas,
antropológicas e históricas, como alguns temerariamente tentam nos fazer
pensar. Jesus:
[...] veio para o
meio de nós, com um corpo semelhante ao nosso, com uma alma humana, com um
coração que palpita e sangra, foi para que víssemos que nos acompanha e nos ama
nas nossas circunstancias, e quer facilitar-nos que entremos em amizade com Ele[1].
Mas infelizmente não entendemos
a mensagem do Mestre e pagamos sua bondade e mansidão com violência e morte! A
expiação da culpa alheia aceita até a morte, até as últimas consequências, é o
ponto alto da Sexta-Feira da Paixão.
Mas Jesus nos convida a
completarmos na nossa carne as suas dores e sacrifício, sermos corredentores
com Ele. E de fato, ao longo dos dois mil anos seguintes uma multidão
incontável de testemunhas aceitou amorosamente ajudar Jesus a carregar um pouco
da Sua Cruz, seja através do martírio de sangue, morrendo em testemunho da sua boa nova (evangelho), ou aceitando dores
e angustias de todos os tipos, físicas ou morais, cuidando de doentes,
desabrigados, idosos, aleijados, órfãos, e todo tipo de pessoa desalentada e
solitária.
O cristianismo não nega
que devamos lutar para mitigar a dor e a injustiça na terra, mas lembra que a
meta final é o Céu e não uma sociedade perfeita, sem contrastes nem injustiças.
A luta por mitigar a dor e a injustiça deve ser um meio e não um fim. Mesmo sociedades
ricas e poderosas abrigam situações de injustiça que clamam aos céus, como por
exemplo, o tratamento dado aos embriões, os nascituros, os deficientes físicos
e mentais, aos idosos e desabrigados.
Não devemos cometer o
erro bem intencionado, mas erro, daquele venerável bispo já falecido, catalão
oriundo da congregação claretiana e bispo de São Feliz do Araguaia-MT durante a
ditadura militar compôs um poema para denunciar os crimes e arbitrariedades que
presenciou, confundindo personagens e situações históricas com a mensagem de
redenção e misericórdia de Jesus:
“- Che
Guevara –
E, por
fim, tua morte também me chamou
Lá da
seca luz de Vallegrande.
Eu, Che,
continuo crendo
Na
violência do Amor: Tu mesmo
Dizias
que ‘é preciso ser duro
Sem nunca
perder a ternura’.
Mas tu me
chamaste. Também tu.
(Os temas
compartilhados, dolorosos.
Os
múltiplos olhares moribundos.
A inerte
compaixão exasperante.
As sábias
soluções à distancia...
América.
Os pobres. Este mundo terceiro
Quando
não existe mais do que um mundo
De Deus e
dos homens!)
Escuto no
transistor como te canta
A juventude
rebelde,
Enquanto
o Araguaia palpita a meus pés como uma
[artéria viva
Transido
pela lua quase cheia.
Toda luz
se apagou. E é só noite.
Cercam-me
os amigos longínquos, vindouros.
(‘Pelo
menos tua ausência é bem real’
Geme
outra canção... Oh! A presença
Em quem
eu creio, Che,
Para Quem
eu vivo
Em quem
eu espero apaixonadamente!
...A
estas horas tu sabes bastante
De
encontros e respostas.)
Descansa
em paz. E aguarda, já seguro,
Com o
peito curado
Da asma
do cansaço;
Limpo de
ódio o olhar agonizante;
Sem
outras armas, amigo,
Senão a
espada nua de tua morte.
(Morrer
sempre é vencer
Desde o
dia em que
Alguém
morreu por todos, como todos,
Matado,
como muitos...)
Nem os
‘bons’ – de um lado –
Nem os
‘maus’ – do outro –
Entenderão
meu canto.
Dirão que
sou poeta, simplesmente.
Pensarão
que a moda pode comigo.
Recordarão
que sou um padre ‘moderno’.
Para mim,
tanto faz!
Somos
amigos
E falo
contigo agora
Através
da morte que nos une;
Estendendo-te
um ramo de esperança,
Todo um
bosque florido
De
ibero-americanos jacarandás perenes,
Querido
Che Guevara!”[2].
Quão diferente é a
mensagem de Jesus na Cruz quando Ele nos alertava que o seu Reino não era aqui
deste mundo! Porque mesmo que conseguíssemos instaurar nessa terra um mundo sem
dor nem morte, ficaria a certeza de que não fomos feitos para permanecer aqui
na terra, mas para o Céu. Se não tomarmos cuidado vamos confundir os reinos da
terra com suas ânsias de justiça social com o Céu, inclusive santificando
personagens históricos que em vida pouco ou nenhum apreço demonstraram por
Deus, como o homenageado do poema, companheiro revolucionário dos irmãos Fidel
e Raul Castro durante a Revolução Cubana (1959).
Jesus morreu na Cruz para
nos libertar do pecado, origem da mais triste escravidão humana: o não poder
mais se libertar do jugo do demônio, o príncipe deste mundo e não poder merecer
o Céu. Esse é que é o verdadeiro espírito dessa semana santa e Páscoa. Esqueçamos
o coelhinho e vamos tentar maneirar no chocolate, e agradeçamos o sacrifício de
Jesus na Cruz.
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