Os amigos leitores e seguidores talvez pensem: "Mas afinal porque o Edison fala de teologia da história?".
A explicação não é muito fácil, mas aqui tentarei sintetizar.
Quando a gente está na faculdade de história nos ensinam que devemos buscar a objetividade, a neutralidade, a isenção em um sentido amplo, seja no levantamento historiográfico e bibliográfico, na análise de documentos, ou mesmo na construção de um relato histórico. Um desdobramento disso é que aprendemos a desconfiar de tudo o que se refere a documentos, análise de documentos e a interpretação dos mesmos. Marc Bloch na sua obra máxima, Apologia da história (Combates pela história) fala disso: devemos desconfiar do documento. Isso, somado aos nossos referenciais teóricos filosóficos relativistas que dizem que a verdade não existe, apenas versões dos fatos, ariscam a transformá-lo num cético.
Eu me lembro bem que em 2015 ao redigir a conclusão do artigo sobre ao balanço da historiografia da história da Igreja no Brasil entre os anos de 1965 até 2015): https://www.unav.edu/publicaciones/revistas/index.php/anuario-de-historia-iglesia/article/view/1924 quase caí nessa armadilha. Estava já com o texto concluído quando o prof. Esteve Jaulent, meu incentivador, amigo e frequentes vezes minha consciência, me recriminou: "Mas assim você não acrescenta nada ao debate historiográfico! Está apenas repetindo o que todo mundo fica dizendo!". Depois desse chacoalhão, reescrevi a conclusão do artigo. Nele (agora) lemos:
A constatação geral com que encerro este texto é o da falta de um instrumental teórico adequado à disciplina História da Igreja do Brasil. Como já havia comentado no inicio do texto os pesquisadores brasileiros se apoiam em diversos autores: sociólogos, antropólogos, historiadores, psicólogos, mas muito pouco em filósofos e teólogos. As ciências sociais são bons instrumentos de análise e pesquisa, mas abordam a instituição religiosa de acordo com seus pressupostos teóricos e metodológicos, ameaçando enviesar previamente os resultados das pesquisas históricas. Essa atitude de forçar o objeto de estudo a concordar com certos autores ou linhas de pesquisa não condiz com o ofício do historiador. Se essa influência fosse verdadeira, não existiria objetividade histórica. O historiador deve tirar tudo quanto seja falta de objetividade de seu estudo. (p. 19-20).
Hoje vejo claramente que a produção desse texto foi um divisor de águas no meu pensamento.
Um historiador da Igreja deve utilizar um instrumental teórico adequado ao objeto que pretende estudar, no caso a religião cristã. Um referencial teórico que parta do materialismo dialético, por exemplo, por mais poderoso que seja não escapará da conclusão que Karl Marx apontou no Manifesto Comunista do Partido Comunista Alemão: a religião é o ópio das massas.
Se vou estudar a religião cristã e entendo a história da Igreja como a ação de Deus na história, sendo que a história humana é parte de um contexto maior onde o homem é um ser composto ao mesmo tempo de uma parte espiritual e outra material, a conclusão é que o homem vive no tempo (que é uma criatura, criada no mesmo instante do mundo para medir o desgaste das criaturas), mas está destinado a algo mais elevado e sobrenatural.
Sendo assim, proponho uma história de uma instituição que possui uma missão sobrenatural, mas que atua no tempo e no mundo através de seres humanos limitados, cheios de defeitos e taras bem feias, e que ao mesmo tempo é sustentada por um Deus que ousou se fazer homem, viver entre nós em um determinado período da história e que, após receber a recusa da sua doutrina divina pelos seres humanos cabeças duras foi morto por eles, ironicamente os mesmos que Ele queria salvar! Esse é Jesus Cristo, a instituição que ele criou para difundir sua doutrina pelo tempo é a Igreja, os humanos meio surdos e teimosos somos cada um de nós, e a história que a partir daí vai se contar é uma história contada sob uma leitura teológica, uma teologia da história.
Num próximo post pretendo desenvolver mais as características da teologia da história, mas de momento paro por aqui para não cansá-los demais com teologia da história.
Tenham uma ótima tarde!
Edison Minami.
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