segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Livros sobre a Tradição





Desde o encerramento do último concílio geral da Igreja Católica Vaticano II (1962-1965) o debate em torno da tradição acirrou-se, em especial nos últimos anos. Se desde o final do concílio a leitura interpretativa dominante aqui no Brasil eram autores progressistas que se utilizavam da Teologia da Libertação como chave interpretativa da história da Igreja, a última década viu aparecerem leituras conservadoras. Aqui destaco o historiador italiano Roberto De Mattei que entre os anos 2011 e 2013 teve duas obras suas publicadas no brasil pela editora Ambientes e Costumes.
De Mattei no seu livro Vaticano II: uma história nunca escrita (2011) propõe uma nova leitura do evento conciliar. Para ele o Vaticano II rompeu com a tradição do catolicismo de se opor ao mundo moderno que vinha do Concílio de Trento (1545-1563). Para De Mattei o Vaticano II acabou não só por não se opor ao mundo, mas se colocou lado a lado com o mundo abrindo o catolicismo a mundanidade e a crise atual da Igreja.
De Mattei demonstra seguir de perto a linha eclesiológica de seu grande mestre, Plínio Correa de Oliveira, do qual ele, De Mattei, é o biógrafo oficial. Apoiada em farta bibliografia e documentação, De Mattei entende a tradição dentro de um quadro rígido e estático. A Tradição por excelência seria a forjada nos embates do séc. XVI do catolicismo contra a reforma protestante e o pensamento moderno nascente. Sendo assim, De Mattei entende que somente quando restaurar-se a Igreja Tridentina, uma Igreja de embate contra o mundo, a crise da Igreja católica se resolverá.
Em uma obra posterior, Apologia da Tradição (2013), De Mattei prossegue na sua ideia de restaurar a tradição inaugurada pelo Concílio de Trento, desta vez historiando todo o desenvolvimento da tradição católica ao longo dos milênios chegando aos nossos dias.
Diferente é o desenvolvimento do manual sobre a Sagrada Tradição: Escola da Fé vol. I do prof. Felipe Aquino (Ed. Cleófas, 2000). Apoiando-se em fontes primárias, Felipe Aquino entende que a tradição deve ser mais vivida do que revigorada ou restaurada. A tradição assim é entendida como um fenômeno dinâmico que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos sem perder seu núcleo original: a pregação de Jesus Cristo que posteriormente foi fixada nas escrituras e também repassada a nós através da Sagrada Tradição (escrita ou oral).
Este ainda é um projeto pessoal meu que não se completou: a reflexão sobre o papel da tradição na Igreja Católica do séc. XXI. Ainda há muito o que ler, e pouco tempo e boa disposição para o mesmo (sim, ando cansado).
Mas adianto um alerta: a atual discussão sobre a tradição dentro da Igreja não é um problema de fé ou de revelação privada, de liturgia ou de eclesiologia, mas antes de mais nada de história, ou melhor dizendo, de morfologia histórica. De entender como interpretamos o passado á luz das necessidades do tempo presente.

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