Desde o encerramento do último concílio geral da
Igreja Católica Vaticano II (1962-1965)
o debate em torno da tradição acirrou-se, em especial nos últimos anos. Se
desde o final do concílio a leitura interpretativa dominante aqui no Brasil
eram autores progressistas que se utilizavam da Teologia da Libertação como chave interpretativa da história da
Igreja, a última década viu aparecerem leituras conservadoras. Aqui destaco o
historiador italiano Roberto De Mattei que entre os anos 2011 e 2013 teve duas
obras suas publicadas no brasil pela editora Ambientes e Costumes.
De Mattei no seu livro Vaticano II: uma história nunca escrita (2011) propõe uma nova
leitura do evento conciliar. Para ele o Vaticano II rompeu com a tradição do
catolicismo de se opor ao mundo moderno que vinha do Concílio de Trento (1545-1563). Para De Mattei o Vaticano II acabou
não só por não se opor ao mundo, mas se colocou lado a lado com o mundo abrindo
o catolicismo a mundanidade e a crise atual da Igreja.
De Mattei demonstra seguir de perto a linha
eclesiológica de seu grande mestre, Plínio Correa de Oliveira, do qual ele, De
Mattei, é o biógrafo oficial. Apoiada em farta bibliografia e documentação, De
Mattei entende a tradição dentro de um quadro rígido e estático. A Tradição por
excelência seria a forjada nos embates do séc. XVI do catolicismo contra a
reforma protestante e o pensamento moderno nascente. Sendo assim, De Mattei
entende que somente quando restaurar-se a Igreja Tridentina, uma Igreja de
embate contra o mundo, a crise da Igreja católica se resolverá.
Em uma obra posterior, Apologia da Tradição (2013), De Mattei prossegue na sua ideia de
restaurar a tradição inaugurada pelo Concílio de Trento, desta vez historiando
todo o desenvolvimento da tradição católica ao longo dos milênios chegando aos
nossos dias.
Diferente é o desenvolvimento do manual sobre a Sagrada Tradição: Escola da Fé vol. I do
prof. Felipe Aquino (Ed. Cleófas, 2000). Apoiando-se em fontes primárias,
Felipe Aquino entende que a tradição deve ser mais vivida do que revigorada ou
restaurada. A tradição assim é entendida como um fenômeno dinâmico que foi se
desenvolvendo ao longo dos séculos sem perder seu núcleo original: a pregação
de Jesus Cristo que posteriormente foi fixada nas escrituras e também repassada
a nós através da Sagrada Tradição (escrita ou oral).
Este ainda é um projeto pessoal meu que não se
completou: a reflexão sobre o papel da tradição na Igreja Católica do séc. XXI.
Ainda há muito o que ler, e pouco tempo e boa disposição para o mesmo (sim, ando
cansado).
Mas adianto um alerta: a atual discussão sobre a
tradição dentro da Igreja não é um problema de fé ou de revelação privada, de
liturgia ou de eclesiologia, mas antes de mais nada de história, ou melhor
dizendo, de morfologia histórica. De entender como interpretamos o passado á
luz das necessidades do tempo presente.
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