segunda-feira, 23 de março de 2020

OS CRISTÃOS EM UM CONTEXTO APOCALÍPTICO / OU, COMO SE VIRAR DENTRO DE CASA O DIA TODO


Sim, sim; eu também estou escrevendo de dentro da minha casa, de onde não pretendo botar a cara para fora pelos próximos dias, somente pra comprar comida, medicamentos e só.
Confesso que há anos perdi muito dessa vontade de ficar de bobeira na rua, ou mesmo na TV e internet. Se saio, tem que ter alguma finalidade: realizar tarefas, encontrar amigos, ou me distrair com alguma atividade sadia. Sair sem nenhuma finalidade, nem pensar! E como eu tenho dois idosos para cuidar aqui, mesmo esses momentos de distração rarearam, como não poderia ser diferente.
Ruim? Bom, não vou dizer que essa era a vida que eu sonhava. A realidade superou até mesmo os meus sonhos mais loucos, como está sendo para todos. Mas queria deixar registradas algumas impressões sobre a pandemia que paralisou o mundo, e talvez apontar algumas luzes no fim do túnel.

Dois livros que li podem nos ajudar a compreender como enfrentar essa provação do recolhimento forçado. O primeiro é um testemunho do padre Walter J. Ciszek (Cf.: https://www.quadrante.com.br/pelos-vales-escuros), um jesuíta que passou 23 anos preso em campos de confinamento na URSS. O outro, o do cardeal François X. N. Van Thuan (Cf.: https://www.cidadenova.org.br/livraria/produtos/30-testemunhas_da_esperança), que passou anos em uma solitária, também preso por um regime de inspiração marxista.
O que ambos possuíam em comum? Uma resiliência perante situações desconcertantes, privação completa e absoluta de liberdade. Sem banho, sem comida, sem receber visitas, constantemente ameaçados de fuzilamento. Só restava a eles aceitar a realidade.
Aqui é preciso uma breve explicação: para nós, cristãos, a aceitação da realidade é o começo da entrega completa a Vontade de Deus. Para nós, Deus não é um ser distante e frio, mas um Deus de misericórdia e bondade que só quer o nosso bem. No caso do Pe. Cisbek ele mesmo chega a dizer no livro que a parte mais difícil da privação para um cristão é saber que nada pode mais ser feito. Você não tem espaço de manobra para dizer: “fiz a minha parte e que agora Deus faça a sua”. Não! Não há nada a se fazer. Esse sacrifício da nossa vontade e inteligência (entendimento) é um processo muito doloroso, porém necessário, porque rompe as últimas amarras que nos impedem de aceitar a Vontade Dele. Nada de mal vem de Deus. A dor nos purifica e nos permite ver a Deus sem obstáculos.
Alguém que teve coragem de ler este texto até aqui pode me criticar dizendo: ok, mas... e aí? Vamos nos entregar ao pessimismo então?
Nada disso! A mensagem do Pe. Cisbek e do Cardeal Van Thuan são de otimismo. Otimismo em ver que, mesmo diante das maiores calamidades, Deus nos acompanha e de um grande mal pode tirar um grande bem. Basta que permitamos, que usemos bem da nossa liberdade, do nosso livre arbítrio para realizarmos o plano divino que Ele desenhou desde toda a eternidade. Podes crer que tu vais sair dessa quarentena forçada – que, admitamos, é bem mais suave que uma solitária numa prisão vietnamita! – mais purificado na sua alma, mais leve, mais atencioso aos seus parentes, amigos e colegas de trabalho. Verá que o valor de um sorriso no rosto de uma criança, em um idoso, entre um homem e uma mulher é inestimável, vale bem mais que um milhão de dólares.

Por fim, queria terminar minhas reflexões comentando de outro padre: José Emerson Barros Cabral (Cf.: https://www.youtube.com/user/peemersondf/videos). Ele celebra diariamente missa em sua capela particular. Por causa da pandemia? Não. Na verdade, ele já vivia em quarentena há tempos, devido a um transplante de rim realizados meses atrás. Sim, ele faz parte do tal “grupo de risco”, mas segue vivendo um dia após o outro, como aliás todos nós deveríamos fazer. “O pão nosso de cada dia nos daí hoje”, nos pediu Jesus que pedíssemos ao Pai Celeste. Ele não nos ensinou a pedir o pão de amanhã, ou da semana que vem, ou em estocar a “quentinha” como alguns egoisticamente fizeram com itens de higiene pessoal nas últimas semanas.
Viver um dia após o outro, fazer o que temos e podemos fazer como se tudo dependesse de nós, e rezar intensamente porque tudo depende Dele: eis a fórmula, penso eu, de como vamos superar essa que possivelmente será a maior crise deste começo de século XXI.

Despeço-me, agradeço a paciência que você teve em ler estas linhas meio improvisadas, e cuide-se!

Edison Minami.

domingo, 15 de março de 2020

ESSAS CRISES MUNDIAIS SÃO CRISES DE SANTOS (São Josemaría Escrivá de Balaguer, Fundador do Opus Dei)


Enquanto escrevo aqui de casa vejo que o mundo mais uma vez convulsiona, desta vez devido a pandemia do COVID-19, apelidada pela imprensa e mídias sociais de Corona-vírus.
Sim, eu sei e todos que leram o post até aqui já estão fartos e tomando todos as devidas providências, logo, não há necessidade de me estender sobre os aspectos clínicos e médicos do assunto.
Meu enfoque como historiador da Igreja é outro: a sensação de temor e tremor que assola a todos há tempos. Em outras palavras: a certeza de que nosso mundo, construído sobre os ganhos da modernidade dos últimos séculos, vai desabar num instante como um castelo de cartas. (Os corretores da bolsa de valores que o digam!).
Ao ver como o mundo e cada pessoa se assombra diante da possibilidade do seu próprio fim - certeza essa que é a única que temos! – veem a mente A cidade de Deus de Santo Agostinho de Hipona (354-430).
Para Agostinho um acontecimento mau é enfrentado de modos diferentes por cristãos e não cristãos. O ímpio sofre para se arrepender dos seus pecados, já os justos sofrem para que estejam sempre despertos e preparados para amar e servir ao seu Deus, ou seja, para justificar a sua fé. Pecadores e santos enfrentam diferentemente os desafios da vida: os primeiros com revolta ou resignação, já os segundos com alegria, pois entendem que a dor os une ao seu Deus feito homem e morto na Cruz:

“(...) a paciência de Deus convida os maus à penitência, como os flagelos adestram os bons na paciência. E como a misericórdia de Deus abraça os bons para auxiliá-los, sua severidade apodera-se dos maus para castigá-los”. (...).
“Assim, malgrado partilharem das mesmas angústias, bons e maus não se misturam, por estarem confundidos nas provações. A semelhança dos sofrimentos não elimina a diferença entre os sofredores e a identidade dos tormentos não estabelece identidade alguma do vício e da virtude”[1].

Aqui vale a regra da parábola onde o sol nasce para bons ou maus, onde o semeador sai para semear a semente tanto no solo bom quanto no ruim. Deus não permite a maldade dos homens porque não pode fazer nada – argumento de ateus militantes como Richard Dawkins e Paolo D´Arcais contra a crença em Deus – mas sim porque ele preza a nossa liberdade. As guerras mundiais ocorrem apesar da desaprovação divina, e não por causa de uma “incompetência de Deus” ou insensibilidade divina.
Quanto as calamidades que assolam o mundo como uma epidemia de peste, por exemplo, elas lembram que o mundo não está acabado em si. Como criatura de Deus, o mundo segue progredindo, se transformando, se plasmando, buscando algo que apenas no final dos tempos ocorrerá: seu ápice. E essa busca de equilíbrio não transcorre sem acidentes: terremotos, maremotos, secas, enchentes, somadas a guerras, convulsões sociais, conflitos de todos os tipos. A natureza se transforma, mas a ação do homem também transforma e interfere. Outro pensador de destaque também desenvolveu essas mesmas ideias:

“(...) Deus está lá, sustentando todos os seres, Ele que é o Senhor da história; porque Ele não apenas sabe disso, mas tudo o que ocorre acontece porque Ele o quer e permite. Esse Deus nos ensinou a invocá-lo como Pai; este é o primeiro fundamento de nossa segurança e nossa confiança na história: fé em sua providência e em seu amor. Sabemos que sua mão todo-poderosa e misericordiosa sustenta, invisível porém presente, o desenvolvimento do tempo desde o primeiro dia da criação”.
"Mesmo quando o mal irrompe e parece tirar tudo, quando catástrofes cósmicas nos arrastam como uma pena, sabemos que não podemos nos desesperar: porque Deus amou tanto o mundo, que ele lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que creia nele não pereça (Jo 3, 16)”[2].

Por fim, e encerro aqui minhas digressões, respondo dizendo como S. Josemaria Escrivá, que as “crises mundiais são crises de santos”, ou seja: depende de nós cristãos darmos o nosso testemunho de coragem, misericórdia e caridade perante um mundo que ao menor sinal de instabilidade segue o “mal humor dos mercados financeiros”, sucedâneos modernos da “PAX ROMANA” que, assim como sua similar do sécs. IV e V, quando acabou seus contemporâneos não conseguiam ver nada além de um túnel escuro e o fim dos tempos.
Se a percepção de que o mundo vai mal contamina a todos, fiéis e infiéis, isso somente prova que a fé da maioria se esfriou, daí a “crise na santidade”. Como cristãos temos que provar que, assim como S. Agostinho na sua Cidade de Deus, o fim do mundo decrépito e desabando de podridão moral e espiritual – o nosso mundo, nunca é demais lembrar! - é apenas mais uma etapa em uma história maior, a da ação de Deus no tempo e no espaço, a que chamamos de História da Igreja Católica, e que somente vai se encerrar na parusia, a segunda vinda de Cristo à terra.

Assim seja!
Tenham todos uma ótima semana!



[1] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus: contra os pagãos. Livro I, cap. 8. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 47-49.
[2] MARROU, Henri-Irenée. Teologia de la historia. Madri: RIALP, 1968, p. 52-53.

terça-feira, 10 de março de 2020

PRECISO LER E DEPOIS PRECISO ESCREVER: OU, COMO EU VEJO MEU APOSTOLADO

Amigos, nos dias que correm entende-se que tudo deve ser publicado nas redes sociais em velocidade supersônica: blogs, Instagram, Twitter, textos no Facebook, posts no WhatsApp... Tudo deve ser resolvido e explicado em poucas linhas, poucos parágrafos. Não é assim que devo agir! Infelizmente meus vídeos no Youtube estão parados até segunda ordem, pois decidi que são através de textos e notas de formato mais acadêmico – pra não dizer mais quadradão! – que devo agir, na medida do possível. Sim, tudo mais lento, mais pausado, mais difícil de entender em último caso! Mas precisa ser assim, pois preciso de tempo pra pensar, digerir e refletir. Nem jornais e TV assisto direito, pois preciso me concentrar nos meus raros momentos de leitura, reflexão e escrita para poder organizar ideias e assim passar alguma coisa que preste pelas redes sociais. Sim, o que mais abomino no momento é o que me permite manter contato com vocês! E aqui não posso choramingar, mas aceitar! No momento estou tentando produzir algo que tenha algum valor. Peço as orações de todos para que dê certo! Boa noite a todos! Edison Minami