domingo, 15 de março de 2020

ESSAS CRISES MUNDIAIS SÃO CRISES DE SANTOS (São Josemaría Escrivá de Balaguer, Fundador do Opus Dei)


Enquanto escrevo aqui de casa vejo que o mundo mais uma vez convulsiona, desta vez devido a pandemia do COVID-19, apelidada pela imprensa e mídias sociais de Corona-vírus.
Sim, eu sei e todos que leram o post até aqui já estão fartos e tomando todos as devidas providências, logo, não há necessidade de me estender sobre os aspectos clínicos e médicos do assunto.
Meu enfoque como historiador da Igreja é outro: a sensação de temor e tremor que assola a todos há tempos. Em outras palavras: a certeza de que nosso mundo, construído sobre os ganhos da modernidade dos últimos séculos, vai desabar num instante como um castelo de cartas. (Os corretores da bolsa de valores que o digam!).
Ao ver como o mundo e cada pessoa se assombra diante da possibilidade do seu próprio fim - certeza essa que é a única que temos! – veem a mente A cidade de Deus de Santo Agostinho de Hipona (354-430).
Para Agostinho um acontecimento mau é enfrentado de modos diferentes por cristãos e não cristãos. O ímpio sofre para se arrepender dos seus pecados, já os justos sofrem para que estejam sempre despertos e preparados para amar e servir ao seu Deus, ou seja, para justificar a sua fé. Pecadores e santos enfrentam diferentemente os desafios da vida: os primeiros com revolta ou resignação, já os segundos com alegria, pois entendem que a dor os une ao seu Deus feito homem e morto na Cruz:

“(...) a paciência de Deus convida os maus à penitência, como os flagelos adestram os bons na paciência. E como a misericórdia de Deus abraça os bons para auxiliá-los, sua severidade apodera-se dos maus para castigá-los”. (...).
“Assim, malgrado partilharem das mesmas angústias, bons e maus não se misturam, por estarem confundidos nas provações. A semelhança dos sofrimentos não elimina a diferença entre os sofredores e a identidade dos tormentos não estabelece identidade alguma do vício e da virtude”[1].

Aqui vale a regra da parábola onde o sol nasce para bons ou maus, onde o semeador sai para semear a semente tanto no solo bom quanto no ruim. Deus não permite a maldade dos homens porque não pode fazer nada – argumento de ateus militantes como Richard Dawkins e Paolo D´Arcais contra a crença em Deus – mas sim porque ele preza a nossa liberdade. As guerras mundiais ocorrem apesar da desaprovação divina, e não por causa de uma “incompetência de Deus” ou insensibilidade divina.
Quanto as calamidades que assolam o mundo como uma epidemia de peste, por exemplo, elas lembram que o mundo não está acabado em si. Como criatura de Deus, o mundo segue progredindo, se transformando, se plasmando, buscando algo que apenas no final dos tempos ocorrerá: seu ápice. E essa busca de equilíbrio não transcorre sem acidentes: terremotos, maremotos, secas, enchentes, somadas a guerras, convulsões sociais, conflitos de todos os tipos. A natureza se transforma, mas a ação do homem também transforma e interfere. Outro pensador de destaque também desenvolveu essas mesmas ideias:

“(...) Deus está lá, sustentando todos os seres, Ele que é o Senhor da história; porque Ele não apenas sabe disso, mas tudo o que ocorre acontece porque Ele o quer e permite. Esse Deus nos ensinou a invocá-lo como Pai; este é o primeiro fundamento de nossa segurança e nossa confiança na história: fé em sua providência e em seu amor. Sabemos que sua mão todo-poderosa e misericordiosa sustenta, invisível porém presente, o desenvolvimento do tempo desde o primeiro dia da criação”.
"Mesmo quando o mal irrompe e parece tirar tudo, quando catástrofes cósmicas nos arrastam como uma pena, sabemos que não podemos nos desesperar: porque Deus amou tanto o mundo, que ele lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo o que creia nele não pereça (Jo 3, 16)”[2].

Por fim, e encerro aqui minhas digressões, respondo dizendo como S. Josemaria Escrivá, que as “crises mundiais são crises de santos”, ou seja: depende de nós cristãos darmos o nosso testemunho de coragem, misericórdia e caridade perante um mundo que ao menor sinal de instabilidade segue o “mal humor dos mercados financeiros”, sucedâneos modernos da “PAX ROMANA” que, assim como sua similar do sécs. IV e V, quando acabou seus contemporâneos não conseguiam ver nada além de um túnel escuro e o fim dos tempos.
Se a percepção de que o mundo vai mal contamina a todos, fiéis e infiéis, isso somente prova que a fé da maioria se esfriou, daí a “crise na santidade”. Como cristãos temos que provar que, assim como S. Agostinho na sua Cidade de Deus, o fim do mundo decrépito e desabando de podridão moral e espiritual – o nosso mundo, nunca é demais lembrar! - é apenas mais uma etapa em uma história maior, a da ação de Deus no tempo e no espaço, a que chamamos de História da Igreja Católica, e que somente vai se encerrar na parusia, a segunda vinda de Cristo à terra.

Assim seja!
Tenham todos uma ótima semana!



[1] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus: contra os pagãos. Livro I, cap. 8. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 47-49.
[2] MARROU, Henri-Irenée. Teologia de la historia. Madri: RIALP, 1968, p. 52-53.

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