segunda-feira, 21 de junho de 2021

ECUMENISMO: ORIGENS – parte 05. Estudo de casos, parte I: A Sociedade da Reconciliação

(Paul James Francis, recém ordenado reverendo Episcopal. ANGELL, Charles – LA FONTAINE, Charles. Prophet of reunion: the life of Paul of Graymoor. New York, The Seabury Press. 1975).

Olá amigos! Após um tempo ausente de postagens – a última foi em março passado - decidi me reorganizar e colocar as “últimas pedras” nas postagens sobre as origens do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, abordando alguns casos para ilustrar os limites, dilemas e talvez apontar saídas para o movimento ecumênico neste século XXI. E aqui queria apresentá-los a um dos pioneiros do movimento: Frei Paul Wattson.

Wattson foi um dos pioneiros do movimento ecumênico, tanto na sua vertente anglicana (ele era pastor protestante) quanto na católica (se converteu ao catolicismo anos depois). Juntamente com o pastor anglicano Spencer Jones criaram uma sequência completa de orações ecumênicas incentivando a unidade dos cristãos, a Oitava da Cátedra pela Unidade:

 

18 de janeiro (A Festa da cátedra de S. Pedro em Roma) – A volta de outros rebanhos para o Rebanho Único do Cristo.

19 de janeiro – A volta dos Separatistas Orientais para a Comunhão com a Sé Apostólica.

20 de janeiro – A submissão dos Anglicanos perante a Autoridade do Vigário de Cristo.

21 de janeiro – Que os Luteranos e outros Protestantes da Europa Continental poderiam achar o caminho de volta para a Santa Igreja.

22 de janeiro – Que os Cristãos na América poderiam tornar-se Um na União com a Cátedra de S. Pedro.

23 de janeiro – Retorno aos Sacramentos dos prescritos Católicos.

24 de janeiro – A Conversão dos Judeus.

25 de janeiro – (Festa da Conversão de S. Paulo) – A conquista pelos Missionários do mundo para o Cristo[1].

Anos mais tarde Wattson e sua congregação expressaram o desejo de se converterem em conjunto para a Igreja Católica, mas precisavam de um intermediário adequado. Eles o encontraram na pessoa do Bispo Kinsman de Delaware que os colocou em contato com o Cardeal Merry Del Val, um dos principais colaboradores de São Pio X. Paul Wattson através desse contato enviou uma carta para Roma com um pedido formal ao papa de aceitação dos Franciscanos na Igreja Católica em conjunto. Wattson pedia ao papa a manutenção de pontos chave da congregação:

 

1) a aceitação da totalidade da Sociedade da Reconciliação à submissão e comunhão Católica;

2) a confirmação do Nome e Instituto da Sociedade;

3) nossa recepção como membros da terceira Ordem de São Francisco;

4) a aceitação na fé como ‘Caput et Mater’ da Sociedade; Casa de São Francisco, Graymoor (a qual nós chamamos nossa ‘Porciúncula’) e do adjunto Monte do Atonement e Mosteiro de São Paulo, uma propriedade de beleza extraordinária, com vinte e quatro acres de área [localizadas no estado de Nova Iorque(NY)];

5) a comissão de nossos membros, tanto os Frades da Reconciliação quanto as Irmãs da Reconciliação, pelo trabalho [o carisma] de (1) reconciliar pecadores com Deus através do precioso sangue da Reconciliação, (2) o convencimento de Anglicanos e outros cristãos não Papais à obediência de São Pedro, (3) a conversão dos pagãos[2].

Um detalhe que não apareceu na citação acima foi de que São Pio X permitiu que eles utilizassem a tradução inglesa da Bíblia, a King James Version, confeccionada no séc. XVII e de inspiração anglicana. Essa deferência era especial para a Sociedade da Reconciliação – Society of Atonement – lembrando que o termo atonement é o único que dá o sentido preciso para a expressão reconciliação.

Outra iniciativa que Paul Wattson desenvolveu nesses anos foi a devoção a Nossa Senhora da Reconciliação, padroeira dos Frades Franciscanos da Reconciliação:

 

Frequentemente o Padre insistia na recitação do rosário durante a Oitava da Cátedra da Unidade como um meio de se obter a unidade pela qual Cristo orou na véspera do sacrifício do Calvário. Acentuava que assim como São Domingos superara a heresia do século XIII mediante a intercessão de Nossa Senhora, assim também o apostolado da unidade do século XX sobrepor-se-ia à heresia, ao cisma e à indiferença mediante a intercessão da mesma mãe de Deus[3].


(Capela dos frades da reconciliação em Graymoor, NY. Pe. Paul Wattson está no canto esquerdo da segunda fileira). In: ANGELL, Charles – LA FONTAINE, Charles. Prophet of reunion: the life of Paul of Graymoor).

Wattson faleceu em 1940, mas sua congregação continuou existindo difundindo o carisma da conversão dos protestantes como meio para se atingir a unidade dos cristãos. Ainda no início dos anos sessenta do séc. XX um dos freis participou da subcomissão preparatória do decreto De oecumenismo, o futuro Unitatis redintegratio, do Concílio Vaticano II.

Mas a participação do catolicismo no movimento ecumênico naqueles anos via com desconfiança a orientação unionista/conversionista dos frades da reconciliação. Outro padre, um francês chamado Paul Couturier, pregava uma orientação rumo a entendimentos entre católicos e ortodoxos gregos, e não a conversão como alvo primordial. (Couturier, quando pároco em Marselha, França atendeu muitos refugiados da revolução russa de 1917, imediatamente simpatizando com os “cismáticos e heréticos” fugidos do marxismo-leninismo, nascendo assim seu engajamento no ecumenismo).

Consequência disso foi uma reorientação na Congregação dos Frades da Reconciliação, optando mais pelos colóquios de entendimentos e menos na conversão dos protestantes, o que refletiu no trabalho missionário em Goiás e também na implantação da pastoral de ecumenismo na arquidiocese de São Paulo-SP. 

Mas aí já estou adiantando demais a história. Na próxima postagem contarei mais sobre os inícios do movimento ecumênico no Brasil.



[1] GANNON, David. Father Paul of Graymoor. New York: The MacMillan Company, 1959, p. 142.

[2] GANNON, David. Op. Cit, p. 156-157.

[3] CRANNY, Titus. Padre Paulo: apóstolo da Unidade. Petrópolis: Vozes, 1966, p.76.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.