Caros amigos, há
quanto tempo hein?
Essa pandemia só
aumentou meus encargos e obrigações! Compras, medicamentos, faxinas, lavar e
higienizar tudo. Ufa!!!!!! Sigo lutando para me manter mentalmente são e lendo,
escrevendo, estudando e quando posso publico estes posts sobre assuntos
edificantes.
Por isso a ordem
aqui e agora é: chega de obituários jornalísticos e crises político-sociais! (Em
outro momento pretendo falar desta crise que só tem, na minha opinião, paralelo
com o fim do mundo antigo (sécs. IV-V). Mas, como disse: chega disso!).
Quero nos
próximos dias só falar de Mulherzinhas, o livro da escritora Louise May
Alcott[1].
A primeira referência
a este livro eu obtive décadas atrás ao ler Como fazer amigos e influenciar
pessoas de Dale Carnegie, que cita a obra de Alcott. Anos mais tarde foi
lançado o filme homônimo com a atriz Susan Sarandon no papel da matriarca da
família March e Winona Rider como uma das filhas (cf.: https://www.youtube.com/watch?v=P5tTqhSIL_g&list=WL&index=22&t=43s).
A versão de 2019 com Emma Watson no papel de uma das filhas March não assisti
(ainda).
Eu havia criado a
ideia de que o livro era apenas um romance de menininha romântico e açucarado. Anos
atrás eu adquiri de segunda mão um exemplar, mas ele ficou anos numa estante, e
só comecei a lê-lo neste mês de maio de 2020. Surpresa: o
livro é muito bom!
Resumidamente, a
trama desenrola-se durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e tem
como protagonistas a família March. O pai está ausente, convocado a servir no
exército da União contra os Confederados sulistas[2]
e na casa estão a esposa e as quatro filhas. Até aí, uma história bem convencional,
até meio monótona.
Alcott possui um
estilo muito simples e fluido, extraindo diálogos e situações
interessantíssimas de acontecimentos banais do dia a dia: irmãs conversando
sobre coisas de mulher, a mãe sempre de olho para que nenhuma das filhas “saia
da linha”, os amigos e familiares a girar em torno do lar acolhedor, a
religiosidade simples e sem beatices. Lembro-me bem que á época do lançamento
do filme perguntaram a Susan Sarandon o que mais a impressionou ao viver a
matriarca e ela respondeu mais ou menos assim: “As mulheres daquela época (séc.
XIX) eram bem resolvidas”, ou seja: realizavam as tarefas do lar com alegria, o
que não as impedia de desenvolverem dons artísticos como pintar ou escrever
poemas e contos.
Para Edith Stein
há uma grande pressão social para desenraizar a mulher. A partir do momento em
que as preocupações com o trabalho e o sucesso profissional se sobrepõe a
constituição da família é inevitável que o sentido cristão do casamento esteja
ameaçado. Para Stein é fundamental compreendermos o papel da mulher no mundo
moderno:
“O
sentido triplo do matrimônio que a Igreja expressa nas palavras fides,
proles, sacramentum precisa ser resguardado hoje contra a investida das
opiniões de massa que acabaram derrubando a moral burguesa. Que ele seja
resguardado é uma questão vital para o nosso povo e para toda a humanidade. Não
existe outra base teórica para resguardá-lo do que a doutrina católica. Para
que possa ser resguardado é necessário que existam mulheres que o compreenderam
em toda a sua profundidade e que orientam a sua vida por ele; mulheres
preparadas para resistir à investida das ideias da época e para apoiar suas
irmãs”[3].
Para Stein a
mulher possui uma serie de atributos que a qualificam a ser a provedora do lar:
atenção, carinho, dedicação plena e exclusiva para a sua família e aos demais,
intuição feminina. A mulher pode ser sim o que quiser e ir onde quiser, mas ela
pode ser primordialmente mãe e esposa. Cabe a cada mulher usar de seu livre
arbítrio para decidir se a maternidade fará parte de sua vocação, ou não. Em
outra passagem de sua obra, Stein destaca a igualdade entre homem e mulher:
“Não
se fala aqui [Livro do Gênesis] em domínio do homem sobre a mulher. Ela é
chamada de companheira e de ajudante, e ao homem se diz que ele se unirá a ela
e que ambos formarão uma só carne. Assim, dá-se á entender que a vida ao
primeiro casal humano deva ser entendida como a mais íntima comunidade de amor,
que tenham cooperado em harmonia perfeita das forças; assim como, antes da
queda, em cada um deles, individualmente, todas as forças eram cheias de
harmonia, os sentidos e a mente na proporção certa, sem possibilidade de
antagonismos. Por isso mesmo, nem conheciam o desejo desordenado pelo outro. É
isso que está expresso nas palavras: Estavam nus e não se envergonhavam”[4].
Mulheres felizes
em ser o que eram, sem a pressão social em adotar arquétipos. Essa talvez seja
a primeira lição que a leitura de Mulherzinhas nos coloca. Mas veremos nos
próximos dias que há outras lições a serem aprendidas.
Até mais!
[1] ALCOTT, Louise May. Mulherzinhas.
5ª edição revista. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, 243 pp.
[2] A Guerra Civil Americana, também conhecida
como 2ª Revolução Americana (a 1ª teria sido a Guerra de Independência de
1776-1781) resumidamente, dividiu o país em dois: os que defendiam a
manutenção da escravidão e os que defendiam a abolição da escravatura. Os que
defendiam a manutenção da escravidão eram os estados Confederados ou
sulistas. Já os que defendiam a abolição da escravatura foram chamados
de Unionistas ou Ianques.
[3]
STEIN, Edith. A mulher – sua missão
segundo a natureza e a graça. Trad.: Alfred Keller. Bauru - SP, EDUSC. P.
50.
[4] STEIN, Edith. A mulher – sua missão segundo a natureza e a graça. Trad.:
Alfred Keller. Bauru - SP, EDUSC. p. 77.
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