segunda-feira, 1 de junho de 2020

REFLETINDO SOBRE “MULHERZINHAS” - I


Caros amigos, há quanto tempo hein?
Essa pandemia só aumentou meus encargos e obrigações! Compras, medicamentos, faxinas, lavar e higienizar tudo. Ufa!!!!!! Sigo lutando para me manter mentalmente são e lendo, escrevendo, estudando e quando posso publico estes posts sobre assuntos edificantes.
Por isso a ordem aqui e agora é: chega de obituários jornalísticos e crises político-sociais! (Em outro momento pretendo falar desta crise que só tem, na minha opinião, paralelo com o fim do mundo antigo (sécs. IV-V). Mas, como disse: chega disso!).
Quero nos próximos dias só falar de Mulherzinhas, o livro da escritora Louise May Alcott[1].

A primeira referência a este livro eu obtive décadas atrás ao ler Como fazer amigos e influenciar pessoas de Dale Carnegie, que cita a obra de Alcott. Anos mais tarde foi lançado o filme homônimo com a atriz Susan Sarandon no papel da matriarca da família March e Winona Rider como uma das filhas (cf.: https://www.youtube.com/watch?v=P5tTqhSIL_g&list=WL&index=22&t=43s). A versão de 2019 com Emma Watson no papel de uma das filhas March não assisti (ainda).
Eu havia criado a ideia de que o livro era apenas um romance de menininha romântico e açucarado. Anos atrás eu adquiri de segunda mão um exemplar, mas ele ficou anos numa estante, e só comecei a lê-lo neste mês de maio de 2020. Surpresa: o livro é muito bom!


Resumidamente, a trama desenrola-se durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) e tem como protagonistas a família March. O pai está ausente, convocado a servir no exército da União contra os Confederados sulistas[2] e na casa estão a esposa e as quatro filhas. Até aí, uma história bem convencional, até meio monótona.
Alcott possui um estilo muito simples e fluido, extraindo diálogos e situações interessantíssimas de acontecimentos banais do dia a dia: irmãs conversando sobre coisas de mulher, a mãe sempre de olho para que nenhuma das filhas “saia da linha”, os amigos e familiares a girar em torno do lar acolhedor, a religiosidade simples e sem beatices. Lembro-me bem que á época do lançamento do filme perguntaram a Susan Sarandon o que mais a impressionou ao viver a matriarca e ela respondeu mais ou menos assim: “As mulheres daquela época (séc. XIX) eram bem resolvidas”, ou seja: realizavam as tarefas do lar com alegria, o que não as impedia de desenvolverem dons artísticos como pintar ou escrever poemas e contos.
Para Edith Stein há uma grande pressão social para desenraizar a mulher. A partir do momento em que as preocupações com o trabalho e o sucesso profissional se sobrepõe a constituição da família é inevitável que o sentido cristão do casamento esteja ameaçado. Para Stein é fundamental compreendermos o papel da mulher no mundo moderno:

“O sentido triplo do matrimônio que a Igreja expressa nas palavras fides, proles, sacramentum precisa ser resguardado hoje contra a investida das opiniões de massa que acabaram derrubando a moral burguesa. Que ele seja resguardado é uma questão vital para o nosso povo e para toda a humanidade. Não existe outra base teórica para resguardá-lo do que a doutrina católica. Para que possa ser resguardado é necessário que existam mulheres que o compreenderam em toda a sua profundidade e que orientam a sua vida por ele; mulheres preparadas para resistir à investida das ideias da época e para apoiar suas irmãs”[3].

Para Stein a mulher possui uma serie de atributos que a qualificam a ser a provedora do lar: atenção, carinho, dedicação plena e exclusiva para a sua família e aos demais, intuição feminina. A mulher pode ser sim o que quiser e ir onde quiser, mas ela pode ser primordialmente mãe e esposa. Cabe a cada mulher usar de seu livre arbítrio para decidir se a maternidade fará parte de sua vocação, ou não. Em outra passagem de sua obra, Stein destaca a igualdade entre homem e mulher:

“Não se fala aqui [Livro do Gênesis] em domínio do homem sobre a mulher. Ela é chamada de companheira e de ajudante, e ao homem se diz que ele se unirá a ela e que ambos formarão uma só carne. Assim, dá-se á entender que a vida ao primeiro casal humano deva ser entendida como a mais íntima comunidade de amor, que tenham cooperado em harmonia perfeita das forças; assim como, antes da queda, em cada um deles, individualmente, todas as forças eram cheias de harmonia, os sentidos e a mente na proporção certa, sem possibilidade de antagonismos. Por isso mesmo, nem conheciam o desejo desordenado pelo outro. É isso que está expresso nas palavras: Estavam nus e não se envergonhavam”[4].

Mulheres felizes em ser o que eram, sem a pressão social em adotar arquétipos. Essa talvez seja a primeira lição que a leitura de Mulherzinhas nos coloca. Mas veremos nos próximos dias que há outras lições a serem aprendidas.

Até mais!

[1] ALCOTT, Louise May. Mulherzinhas. 5ª edição revista. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, 243 pp.
[2] A Guerra Civil Americana, também conhecida como 2ª Revolução Americana (a 1ª teria sido a Guerra de Independência de 1776-1781) resumidamente, dividiu o país em dois: os que defendiam a manutenção da escravidão e os que defendiam a abolição da escravatura. Os que defendiam a manutenção da escravidão eram os estados Confederados ou sulistas. Já os que defendiam a abolição da escravatura foram chamados de Unionistas ou Ianques.
[3] STEIN, Edith. A mulher – sua missão segundo a natureza e a graça. Trad.: Alfred Keller. Bauru - SP, EDUSC. P. 50.
[4] STEIN, Edith. A mulher – sua missão segundo a natureza e a graça. Trad.: Alfred Keller. Bauru - SP, EDUSC. p. 77.

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