No post anterior
tratei da convivência no lar e seus desafios. Para hoje selecionei outra
passagem onde o tema é o matrimonio e a escolha do par.
Não nos
enganemos: no universo de Mulherzinhas as moçoilas sonham em casar e ter
filhos. Sim... muito opressor para nossos ouvidos acostumados com a realização
individual e material, pensando que: “a mulher tem tanta necessidade de homem
quanto de um peixe!”. No mundo de Mulherzinhas você abre mão de coisas boas em si
na busca de um bem maior, seja o bem estar dos filhos, o controle do próprio
temperamento, entre outras coisas.
Mas Alcott
coloca na boca da sra. March uma série de alertas para as molecas que andavam a
pairar no ar sonhando com o “príncipe encantado”. É um banho de realismo:
_Quero que
minhas filhas sejam belas, bem educadas e boas; que sejam admiradas, amadas e
respeitadas; que tenham uma mocidade feliz, façam um bom casamento e tenham uma
vida útil e venturosa, tendo apenas os cuidados e tristezas que Deus for
servido dispensar-lhes. Ser escolhida e amada por um homem digno é a coisa
melhor e mais suave que possa desejar uma mulher; e eu tenho sincera esperança
de que minhas filhas hão de conhecer este prazer. É muito natural pensar nele,
Meg; muito conveniente aguardá-lo e muito prudente prepara-lo; assim, quando
chegar esse tempo feliz, você poderá sentir-se, apta para cumprir os seus
deveres e pronta para a felicidade. Minhas filhas queridas, eu tenho ambições;
não, porém, de fazer de vocês um joguete do mundo, casando-as com homens ricos
meramente porque são ricos, para terem palácios esplendidos que não são lares,
porque lhes faltará o amor. O dinheiro é coisa necessária e preciosa – e,
quando bem empregado, um metal nobre – porém jamais desejo que o julguem o
primeiro ou o único bem a procurar. Prefiro vê-las esposas de homens pobres,
mas felizes, amadas, satisfeitas, a vê-las em tronos de rainhas mas degradadas
a seus próprios olhos e sem paz de espírito.
_Belle diz
que as moças pobres não acham casamento se não se esforçarem para isso – disse
Meg suspirando.
_Então
ficaremos todas solteironas – replicou Jo com firmeza.
_Justamente,
Jo; é preferível ser uma solteirona velha e feliz a uma esposa desgraçada ou
moça desenvolta à caça de um marido – afirmou a sra. March. Não se aborreça,
Meg; a pobreza raras vezes afugenta ao homem que ama com sinceridade. Algumas
das mulheres mais felizes e mais honradas que conheço foram moças pobres, porém
tão dignas de ser amadas que não ficaram solteironas. Deixem estas coisas para
o tempo oportuno[1].
Josemaría
Escrivá que nos ensinava que: “Sonhai e ficareis aquém”. O idealismo sempre
fica abaixo da realidade porque não tem raízes concretas. A vida a dois é feita
de um sem número de pequenas coisas aparentemente desprezíveis: deixar tudo
limpo e asseado, organizado e digno; ser lento ao julgar e mais lento ainda em
repreender, mas quando for preciso dar a repreensão faça-o sem demora, porém
com caridade e paciência; procurar fazer sempre boa cara porque: “um santo
triste é um triste santo” (s. Josemaría Escrivá).
Em outro momento
memorável do livro as irmãs declaram que estavam cansadas das tarefas
cotidianas de costurar, cozinhar, limpar, organizar a casa e estudar. Aí a mãe,
com uma sabedoria verdadeiramente salomônica decide fazer “uma experiencia”:
por uma semana deixar a casa ao ritmo que as filhas queriam dando espaço para
as coisas favoritas delas. Os resultados não demoraram a aparecer:
_Sim; queira
que vocês compreendessem que o conforto depende do fiel cumprimento do dever de
cada qual. Enquanto Hannah [a governanta] e eu trabalhamos para vocês, acham-se
muito bem, embora eu não julgue que sejam muito felizes; eu pensava, pois, que
era preciso uma liçãozinha para demonstrar-lhes o que acontece quando a gente
pensa egoisticamente em si só. Não sentiram que é mais agradável auxiliarem-se
umas às outras, ter ocupações diárias, que tornam os lazeres mais suaves quando
chega sua hora, suportar com paciência os trabalhos, e que assim a casa se pode
tornar mais agradável e alegre para todas nós?
_Sim, mamãe,
tem razão – exclamaram as irmãs.
_Então
permitam que as aconselhe a retomar de novo seus ‘fardos’; conquanto pareçam às
vezes pesados, são bons para todos, tornando-se leves quando os aprendemos a
carregar. O trabalho é agradável e prodigaliza abundância para todos;
resguarda-nos do aborrecimento e dos males; é útil para a saúde e para o
espírito, dá-nos o sentimento do poder e da independência, muito melhor que o
dinheiro ou o luxo[2].
Para Alcott o
trabalho tem valor porque dignifica o homem, embora tenha um valor predominantemente
ascético, de mortificação corporal. O trabalho enrijece o caráter, o torna mais
ordeiro e responsável com o uso dos bens materiais.
Já o catolicismo
não vê as coisas assim. Durante uma tertúlia perguntaram a S. Josemaría Escrivá
se, além do trabalho que outra mortificação se devia viver para crescer na vida
cristã. E o “Nosso Padre” (como nós o chamamos carinhosamente no Opus Dei)
de imediato disse que não, que o trabalho dignifica o homem porque é o meio
para ele atingir sua perfeição espiritual, é oração e meio de santificação
pessoal, dos seus colegas de trabalho, e também para conseguir prestígio
profissional. A consequência dessa maior laboriosidade é a melhora na eficácia apostólica:
o bom exemplo na vida atrai almas para Cristo.
A vida cotidiana
tem um valor imenso para Deus e para o bem de todos seja cuidando dos filhos, trabalhando
no computador, cimentando tijolos, varrendo ruas ou pilotando um carro de
corridas. “A grandeza da vida corrente” era o título de uma das mais conhecidas
homilias de s. Josemaría Escrivá, Fundador do Opus Dei, e a sua maneira norma
de conduta de Alcott.
A felicidade não
se constrói com castelos no ar, mas com pessoas reais de carne e osso com boas
disposições de caráter que colocavam no momento certo as mãos na massa.
[1] ALCOTT, Louise May. Mulherzinhas.
5ª edição revista. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 105.
[2] ALCOTT, Louise May. Mulherzinhas.
5ª edição revista. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969, p. 125.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.